Marilia Amaral*
Como
estamos vivendo a oitava da Páscoa, faremos uma pausa na leitura que temos
feito dos Princípios Fundamentais da Ordem Democrática, para falar sobre esse
tema tão importante, que funda a nossa fé, que é a Ressurreição de Cristo.
Certa
vez, um colega, estudante de Teologia, comentou que mesmo que Jesus não tivesse
feito nenhum milagre, nossa fé não seria em vão porque Jesus ressuscitou, e
isso é importante.
E
entendo que seja verdade, porque outros líderes espirituais também deixaram
ensinamentos importantes, como Buda, Sócrates, Gandhi e tantos outros, mas por
ter cumprido fielmente o projeto do Pai e de ter dado a vida por ele é que
Jesus se destacou, humanamente falando, e Deus não permitiu que a morte
vencesse Jesus e o ressuscitou.
Renold
Blank lembra que a Ressurreição é um fato histórico, já que seria IMPOSSÍVEL
voltarem a falar de Jesus, porque ele fora crucificado. E esse tipo de morte
fazia com que a pessoa deixasse de ter existido. Sua família não falava mais
sobre ela, seus amigos, enfim, era uma vergonha muito grande uma vez que os
crucificados eram tidos como desgraçados, isto é, fora da Graça de Deus.
Então,
o que para nós pode parecer simples, que é o fato de terem voltado a falar em
Jesus Cristo, e ido muito além: de terem anunciado suas palavras e de terem
dado testemunho dele faz com que a ressurreição possa ser comprovada
historicamente.
E
nós, como damos sinais ao mundo de que Jesus ressuscitou e continua vivo?
Vou
retomar um assunto que sempre gosto de abordar. Até porque, semana passada eu
ouvi o padre dizer que quando falamos muito sobre um assunto, ele não se
repete, pois se assemelha ao parafuso: que vive dando voltas ao seu redor, mas
na verdade a cada volta ele se aprofunda mais, aproximando-se do seu objetivo.
Nosso
maior testemunho está no nosso maior desafio: de reduzir as desigualdades
sociais, para mostrarmos que realmente somos cristãos, que acreditamos e
vivemos da forma que Jesus nos orientou.
Há
algum tempo já falei que no livro “Da riqueza ao poder”, o autor afirma que “a
renda dos 500 bilionários mais ricos do mundo supera a dos 416 milhões de
pessoas mais afetadas pela pobreza no planeta”.
Duncan
Green ainda usa o mesmo termo que Frei Betto, quando este se refere ao porquê
da opção preferencial pelos pobres: pela injustiça da “loteria dos
nascimentos”. Dependendo da sorte da pessoa, ela nascerá numa família rica ou
pobre.
Acreditar
que a vida vence a morte significa, então, nos organizarmos de forma a lutar
por uma efetiva reforma tributária. Temos que gritar ao Congresso, muito mais
alto do que os que pedem reformas no Código Penal, muito mais alto que os
apresentadores de TV que pedem a pena de morte e a redução da maioridade penal,
muito mais alto que os conselhos profissionais que solicitam a interrupção da
gravidez até o terceiro mês, temos que gritar que queremos uma Lei que tribute
sobre a herança, sobre as grandes fortunas, sobre a onerosidade dos impostos
sobre os mais pobres.
Diante
de tantos gritos que desejam, ainda hoje, a crucificação de Cristo, devemos nos
aliar ao Pai e ressuscitarmos, darmos vida, àqueles que estão sendo vencidos
pela morte!
*Membro da Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo.
Programa exibido da Rádio 9 de julho em 01/04/2013.
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