terça-feira, 23 de abril de 2013

A CRUZ



A cruz, para o bom senso, é uma loucura,
porque felicidade é a nossa busca:
conforto, pôr lá longe a vida dura...
A cruz tal sonho bom já nos ofusca.

A cruz, pra muita crença, é escandalosa:
quem crê num Deus que é bom tem proteção,
tem paz, prosperidade, vinho e rosa...
A cruz, do privilégio é negação.

A cruz, pro sentimento, é ledo engano:
se Deus sofreu por mim, vai me livrar...
Chorando, por lhe imporem esse dano,
a cruz nos ombros meus não vai pesar...

A cruz, pro ceticismo, é zombaria:
que importa se era bom?... Mas se deu mal:
sofreu as consequências da ousadia...
Quem sonha, a quem não sonha acaba igual.

A cruz, pra indiferença, inútil fardo:
aquele que procura, um dia encontra...
Não penso em defender nem lançar dardo,
não vim pra me entreter com pró ou contra.

A cruz, para Jesus: fatalidade?
Não foi. Foi consequência de uma vida!
O Pai, que tanto preza a liberdade,
esteve confiante nessa lida!

A cruz, pro Novo Reino, é o bom sinal:
a dor, a violência, a própria morte,
por mais que se revistam do fatal,
não têm como barrar o rumo norte!

Pra um povo que se queira como povo,
a cruz não há de ser rota de fuga:
o tempo da justiça é sempre novo
e a paz requer suor, jamais se aluga!

Então, ir carregando a própria cruz,
não pede um ser passivo, resignado:
perdão e destemor, firmeza e luz,
no empenho por um mundo transformado!

                                                       J. Thomaz Filho*
Poeta, escritor, compositor, colaborador da Pastoral Fé e Política.

Contato: jthf@ig.com.br

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