Marilia Amaral*
Como
vimos falando nos últimos programas, daremos continuidade hoje à leitura dos
dispositivos da Constituição Federal de 88 que tratam dos partidos políticos.
Na
última semana, apresentamos o artigo 17 que dispõe sobre a liberdade de
criação, fusão, incorporação e extinção dos partidos, sendo que eles têm que
garantir que os fundamentos da Constituição estejam resguardados.
Hoje
falaremos sobre o parágrafo primeiro, que são os que mais nos interessam dentro
do contexto de democracia participativa. Ouçamos o que eles dizem:
"§
1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura
interna, organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o
regime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre
as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo
seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária."
Eis
um tema que muito me incomoda e que deveria incomodar também muitos eleitores:
as coligações eleitorais. A gente vê, durante as eleições, partidos perdendo
completamente suas identidades graças a essas tais coligações; aliás, acho que
os partidos não perdem suas identidades, na verdade eles as humilham,
espezinham e jogam fora, em um beco qualquer: tudo em troca de alguns minutos a
mais na TV e no rádio. Imaginem, ouvintes, o quão importante são esses minutos
para angariar votos. E a gente também já sabe que voto significa poder! Ah, o
poder...
Vocês
lembram da passagem do Evangelho em que a mãe dos filhos de Zebedeu pede a
Jesus que um filho seu se sente à direita de Jesus e outro à sua esquerda, no
seu Reino? E esse Reino não era o Reino do Céu, não. Era o reinado que eles
imaginavam que Jesus havia vindo resgatar: o reino de Davi. Não foi exatamente
isso que comemoramos ontem? O Domingo de Ramos, onde as pessoas aclamam Jesus:
"Hosana ao Filho de Davi", porque eles pensavam que depois de tantos
milagres e ensinamentos Jesus iria retomar o Reino para os judeus?
É
que eles não tinham entendido e muitos de nós ainda não entendemos também o que
Jesus respondeu àquela mulher:
"Sabeis
que os chefes das nações as subjugam, e que os grandes as governam com
autoridade. Não seja assim entre vós.
Todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós, se faça vosso servo. E o que
quiser tornar-se entre vós o primeiro, se faça vosso escravo. Assim como o
Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar sua vida em
resgate por uma multidão." Mt 20,25b-28.
Mas
voltando à identificação dos partidos políticos: em entrevista à imprensa,
durante o Fórum “Mídia, Direitos Humanos e Liberdade de Expressão”, que
aconteceu na sexta-feira, dia 15/3, em Aracaju, a deputada Luiza Erundina, ao
ser questionada sobre a Reforma Política lembrou que esta deve tratar e pensar
o sistema político como um todo, incluindo a organização do Estado, a disputa e
distribuição do poder, como os poderes do Estado se articulam. E lembrou que a
votação candidato por candidato não ajuda a "criar uma consciência
política coletiva e de projetos políticos. E por falta de entendimento, as
pessoas dizem ter orgulho de votar em pessoas e não em partidos. É verdade que
os partidos que existem hoje não tem muita identidade." A deputada ainda
falou sobre a boicotagem dos parlamentares de inviabilizarem uma autêntica
reforma política e da ênfase que dão ao poder.
Na
Liturgia de ontem, durante o Evangelho, a Assembleia era convidada a repetir as
palavras daqueles que entregaram Jesus: "Crucifica-o! Crucifica-o!" É
necessário fazermos um exame de consciência para saber se na hora que
escolhemos nossos representantes não estamos gritando a eles que crucifiquem
nossa democracia!
*Membro da Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo.
Programa exibido da Rádio 9 de julho em 25/03/2013.
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