A cidade de São Paulo celebrou nesta última
sexta-feira o dia de seu aniversário. Fundada há 459 anos como missão jesuítica
por José de Anchieta, a região era chamada de Piratininga pelos povos
originários que povoavam a região. A cidade que foi lentamente sendo erguida em
torno ao que é hoje o Pátio do Colégio teve sempre como uma de suas mais
marcantes características a diversidade social de seu povo. Inicialmente
representada pela presença de povos indígenas e
brancos portugueses, essa diversidade combinou as marcas da violência,
da escravidão, por um lado, e da atuação religiosa, particularmente a jesuítica,
com intensa presença na catequização e na educação. Mais adiante, a presença do
negro africano escravizado e de outros povos e novos papéis econômicos foram
conferindo à cidade a característica que marcaria a definitiva ascensão da
cidade, já no século XX, mostrando a vocação para ser chamada de locomotiva do
desenvolvimento nacional. A partir daí São Paulo cresce vertiginosamente
consolidando esse modelo caracterizado pela grande diferença entre as condições
de vida nas regiões ricas e de maior renda e das classes sociais trabalhadoras,
as quais residem em áreas quase sempre desassistidas e de grande precariedade
estrutural, distantes da área central e dos empregos e da maioria dos
equipamentos de lazer e cultura.
Um estudo da Rede Nossa São Paulo divulgado
recentemente apresenta o quadro da desigualdade em São Paulo. Cada uma das 31
subprefeituras tem em média mais de 350 mil habitantes e cada um dos 96
distritos soma mais de 100 mil habitantes, ou seja, se qualquer distrito de São
Paulo fosse uma cidade, ela estaria no grupo das 300 maiores cidades do Brasil.
No entanto, ao medir a ausência de equipamentos
públicos, observa-se que em 44 distritos não há sequer uma biblioteca
municipal, 56 distritos não mantém nenhum equipamento esportivo público e 59
não têm nenhum centro cultural. 1,3 milhões de paulistanos vivem em favelas,
muitos dos quais com enorme dificuldade de acesso à cultura, ao esporte e à
moradia digna e baixa ou baixíssima renda.
Para contribuir para mudar essa conhecida e
vergonhosa situação, na última quinta-feira 17 de janeiro os grupos de trabalho
que integram a Rede Nossa São Paulo propuseram diversos objetivos para a nova
gestão municipal, tais como a instalação do Conselho de Representantes nas 31
subprefeituras, 43 novas UBS e a eliminação do déficit de vagas em creche, visando
contribuir com a elaboração do Plano de Metas que a Prefeitura terá de
apresentar até o dia 1º de abril.
Nesse evento foi também apresentada a 4ª
edição da pesquisa sobre o nível de satisfação dos
paulistanos, denominada IRBEM (Indicadores de Referência de Bem-Estar no
Município) com a presença do Prefeito Fernando Haddad e parte de seu gabinete, bem
como vereadores e outras autoridades.
O resultado da pesquisa foi que a grande maioria
dos indicadores piorou na comparação com os anos anteriores: 82% dos itens
avaliados ficaram com média inferior a 5,5. Em particular a área da segurança
pública apresentou as maiores variações negativas em aspectos como a segurança
na cidade como um todo e nos bairros. Além disso, ficou nítida a sensação de
insegurança na cidade, visto que 9 em cada 10 paulistanos afirmam que São Paulo
é um lugar pouco ou nada seguro para se viver.
Diante dessa situação, Haddad recebeu um manifesto intitulado “Eliminando a violência na raiz de suas causas”, lido por Caci Amaral, integrante do Grupo de
Trabalho Democracia Participativa e da Pastoral Fé e Política, que foi assinado
por milhares de pessoas e entidades, conclamando a todos os níveis de governo e
o conjunto da sociedade a mudar, para avançar no caminho da paz.
Na ocasião, Oded Grajew, coordenador da Rede Nossa
São Paulo, fez um pungente pronunciamento para o Prefeito e a platéia lotada do
Sesc Consolação, dizendo "Quando 170 mil crianças estão sem creche na
cidade mais rica do País, a gente percebe que algo está errado. Quando a
diferença dos indicadores entre as regiões mais ricas e mais pobres chega a
dezenas, centenas e milhares de vezes, a gente percebe que algo está errado. Quando
apenas 1% do lixo da cidade é reciclado, quando haveria oportunidade de
trabalho para a população na reciclagem, a gente percebe que algo está errado.
Quando temos dois grandes rios passando pela cidade de São Paulo que hoje são
esgotos a céu aberto, algo está errado. Quando 91% da população se sente
insegura, algo deve estar errado. Quando nos postos de saúde as pessoas esperam
dois meses para serem atendidas por um médico, e tantos morrem no meio do
caminho, algo está errado. A cidade quer mudança", afirmou.
Após o pronunciamento de Grajew, o prefeito
Fernando Haddad disse que, para fazer de São Paulo um lugar melhor para se
viver, primeiro, é preciso ter consciência dos problemas que se enfrenta
no município. O Prefeito listou algumas das dificuldades e entraves que
precisam ser enfrentados para atingir resultados concretos, como o elevado
endividamento e o comprometimento do orçamento com contratos bilionários e
reforçou compromissos como a busca de parcerias e não deixar de prestar contas
das dificuldades para a sociedade, buscando a transparência.
Dias depois, no aniversário da cidade, um resultado
de grande significado concreto e simbólico para a cidade foi atingido: como
desfecho da longuíssima luta do povo da zona leste por uma Universidade Federal,
teve início, por fim, a desapropriação do terreno onde esta será instalada, o
belo local em que funcionou no passado a metalúrgica Gazarra, em solenidade que
contou com a presença da Presidenta Dilma e do prefeito Haddad e suas equipes.
Com a desapropriação, ainda deve restar a discussão sobre os cursos a serem
ofertados. A população pede que sejam similares aos oferecidos no campus da
capital, com Medicina e Hospital Universitário. Para isso, lideranças da Zona
Leste reuniram-se no último dia 22/01 (Terça-feira) na Paróquia São Francisco
de Assis em Ermelino Matarazzo, sob a coordenação do Padre Ticão, e de
Luiz França (Movimento Pela Implantação da Universidade Federal na Zona
Leste) com a nova Reitora da Unifesp Profa. Soraya Soubhi Smaili e
outros professores.
Por fim, não poderíamos terminar sem nos somarmos a
todos os que manifestaram pesar e indignação com a tragédia do município de
Santa Maria, reafirmando que as cidades sempre devem buscar melhorias e cuidar
dos aspectos que contribuem para o bem estar de seus habitantes. Os problemas
de alvará e a fragilidade dos procedimentos de segurança utilizados tem que
servir para ampliar nossa consciência sobre a imensa responsabilidade dos
cidadãos e dos governantes para fazer aplicar as leis, colocando a vida acima
de quaisquer outros interesses.
Visite o blog da pastoral fé e política http://pastoralfp.blogspot.com/ especialmente a seção Cidadania Ativa!!
*Professor da PUC-SP, colaborador da Pastoral
Fé e Política e da Escola de Governo de São Paulo.
Programa apresentada na Rádio 9 de Julho em 30/01/2013.
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