quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

A Igreja e a construção de uma sociedade mais justa e solidária


Marilia Amaral*
Vamos dar continuidade ao estudo da Doutrina Social da Igreja, a partir de agora utilizando o Caderno da CNBB: Temas da DSI. Esse caderno faz parte do Projeto Nacional de Evangelização “Queremos ver Jesus – Caminho, Verdade e Vida”, de 2004.


Temos falado sobre a Doutrina durante as últimas semanas e é importante que fique claro que ela se destina para formar lideranças, formar agentes que possam atuar na “construção de uma sociedade mais justa e solidária”.
Já comentamos outras vezes que muitas pessoas insistem na separação entre os assuntos da Igreja e os assuntos do mundo, principalmente se estes últimos tratarem de temas sociais, que se coloquem ao lado dos pobres; dos sem-terra; dos sem-teto; dos sem oportunidade de nascer, como foi o caso dos fetos anencéfalos; dos operários e trabalhadores sem um salário justo.
Na apresentação do primeiro caderno, Dom Aldo Pagottto afirma que “existe um vínculo indissociável entre a evangelização e a promoção da vida e da dignidade humana.” Já dizia dom Helder: “Se ajudo os pobres me chamam de profeta; se pergunto por que existe pobreza me tacham de comunista”.
Como nós, cristãs e cristãos, podemos entender a paz no mundo, o reino de Deus, sem um mundo mais humano, em que mulheres e homens; ricos e pobres; negros, índios, brancos, amarelos e outras raças possam viver plenamente, humanamente e não tratados de forma desigual, como se uns tivessem maior valor sobre os outros? Uma escuta verdadeira e autêntica da Palavra de Deus nos leva à conversão para sermos também protagonistas no plano divino da salvação do mundo.
Vejam como o documento sobre “A Justiça no Mundo”, resultado do Sínodo dos Bispos, de 1971, retrata bem essa conversão:
“Ao ouvirmos o clamor daqueles que sofrem violência e se veem oprimidos pelos sistemas e mecanismos injustos, bem como a interpelação de um mundo que, com a sua perversidade, contradiz os desígnios do Criador, chegamos à unanimidade de consciência sobre a vocação da Igreja para estar presente no coração do mundo e pregar a Boa-Nova aos pobres, a libertação aos oprimidos e a alegria aos aflitos”.
Para compreendermos melhor o que é então a DSI, o Pe. Alfredo Gonçalves explica que “esta expressão designa o conjunto de escritos e mensagens – cartas, encíclicas, exortações, pronunciamentos, declarações – que compõem o pensamento do Magistério católico a respeito da chamada ‘questão social’”.
O marco inicial da Doutrina foi a encíclica do Papa Leão XIII, Rerum Novarum, em 1891, que significa “Das coisas novas” e foi escrita para falar sobre a condição dos operários.
Porém é evidente que muito antes dessa data a Igreja já tratava de questões sociais. O próprio Evangelho trata de questões sociais, por exemplo, no Pai Nosso, quando Jesus pede que o Pai nos dê o pão de cada dia, quando Jesus afirma que veio para dar vida em abundância para todos, quando Jesus cura os doentes, os endemoniados para que eles possam se reintegrar à sociedade.
Apesar dos principais documentos da DSI serem as encíclicas dos papas, temos também um documento do Concílio Vaticano II – Gaudium et Spes e o texto do Sínodo dos Bispos, Justiça no Mundo, já citado anteriormente.
Quanto mais conhecermos, quanto mais estudarmos a Doutrina Social da Igreja, tanto mais bem preparados estaremos para atuarmos nos “canais de participação popular, tais como Conselhos, Organismos e Movimentos” em busca de uma efetiva transformação da sociedade.

*Membro da Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo.
Programa exibido na Rádio 9 de Julho em 18/12/2012.

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