Marilia Amaral*
Vamos dar continuidade ao estudo da Doutrina Social da
Igreja, a partir de agora utilizando o Caderno da CNBB: Temas da DSI. Esse
caderno faz parte do Projeto Nacional de Evangelização “Queremos ver Jesus –
Caminho, Verdade e Vida”, de 2004.
Já comentamos outras vezes que muitas pessoas insistem na
separação entre os assuntos da Igreja e os assuntos do mundo, principalmente se
estes últimos tratarem de temas sociais, que se coloquem ao lado dos pobres;
dos sem-terra; dos sem-teto; dos sem oportunidade de nascer, como foi o caso
dos fetos anencéfalos; dos operários e trabalhadores sem um salário justo.
Na apresentação do primeiro caderno, Dom Aldo Pagottto
afirma que “existe um vínculo indissociável entre a evangelização e a promoção da
vida e da dignidade humana.” Já dizia dom Helder: “Se ajudo os pobres me chamam
de profeta; se pergunto por que existe pobreza me tacham de comunista”.
Como nós, cristãs e cristãos, podemos entender a paz no
mundo, o reino de Deus, sem um mundo mais humano, em que mulheres e homens;
ricos e pobres; negros, índios, brancos, amarelos e outras raças possam viver
plenamente, humanamente e não tratados de forma desigual, como se uns tivessem
maior valor sobre os outros? Uma escuta verdadeira e autêntica da Palavra de
Deus nos leva à conversão para sermos também protagonistas no plano divino da
salvação do mundo.
Vejam como o documento sobre “A Justiça no Mundo”, resultado
do Sínodo dos Bispos, de 1971, retrata bem essa conversão:
“Ao ouvirmos o clamor daqueles que sofrem violência e se
veem oprimidos pelos sistemas e mecanismos injustos, bem como a interpelação de
um mundo que, com a sua perversidade, contradiz os desígnios do Criador,
chegamos à unanimidade de consciência sobre a vocação da Igreja para estar presente
no coração do mundo e pregar a Boa-Nova aos pobres, a libertação aos oprimidos
e a alegria aos aflitos”.
Para compreendermos melhor o que é então a DSI, o Pe.
Alfredo Gonçalves explica que “esta expressão designa o conjunto de escritos e
mensagens – cartas, encíclicas, exortações, pronunciamentos, declarações – que
compõem o pensamento do Magistério católico a respeito da chamada ‘questão
social’”.
O marco inicial da Doutrina foi a encíclica do Papa Leão
XIII, Rerum Novarum, em 1891, que significa “Das coisas novas” e foi escrita
para falar sobre a condição dos operários.
Porém é evidente que muito antes dessa data a Igreja já
tratava de questões sociais. O próprio Evangelho trata de questões sociais, por
exemplo, no Pai Nosso, quando Jesus pede que o Pai nos dê o pão de cada dia,
quando Jesus afirma que veio para dar vida em abundância para todos, quando
Jesus cura os doentes, os endemoniados para que eles possam se reintegrar à
sociedade.
Apesar dos principais documentos da DSI serem as encíclicas
dos papas, temos também um documento do Concílio Vaticano II – Gaudium et Spes
e o texto do Sínodo dos Bispos, Justiça no Mundo, já citado anteriormente.
Quanto mais conhecermos, quanto mais estudarmos a Doutrina
Social da Igreja, tanto mais bem preparados estaremos para atuarmos nos “canais
de participação popular, tais como Conselhos, Organismos e Movimentos” em busca
de uma efetiva transformação da sociedade.
*Membro da Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo.
Programa exibido na Rádio 9 de Julho em 18/12/2012.
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