quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Origem da Doutrina Social da Igreja



Marilia Amaral*
Iniciando hoje um novo ano, vamos ver de onde se originou a Doutrina Social da Igreja.
Antes, porém, quero lembrá-los que quem quiser fazer um estudo mais aprofundado sobre o tema, pode entrar em contato com a Pastoral Fé e Política através do site: www.pastoralfp.com ou pelo e-mail: contato@pastoralfp.com. Os textos, desses comentários que fazemos na rádio, também estão disponíveis no site.
Já foi dito que o marco inicial da DSI foi a encíclica Rerum Novarum, do papa Leão XIII, em 1891 e já comentamos também que antes desta data, a Igreja já tratava de problemas sociais, mas enquanto Igreja e explicitamente, este foi o primeiro documento da Doutrina.
Entender a época em que a Rerum Novarum foi escrita ajuda a perceber o porquê deste marco. Conforme consta no Caderno 1 dos Temas da Doutrina Social da Igreja, "o contexto da Rerum Novarum é uma sociedade formada de pessoas que vivem na alma e no corpo os efeitos de um salto gigantesco em termos científico-tecnológicos. Tal Revolução trouxe avanços inegáveis, em especial através da imensa capacidade de produção por meio da máquina. Na verdade, representou uma revolução em quatro dimensões: uma de ordem socioeconômica, com surgimento e consolidação da indústria; outra de ordem política, pelo fortalecimento dos Estados-nação a partir da Revolução Francesa; outra, ainda, de ordem científica, que se afirma pelo aprofundamento e sistematização do conhecimento e do método experimental; outra, enfim, de ordem filosófica, fundada no pensamento da razão ilustrada e na emergência da subjetividade".
Outra consideração importante, apresentada neste Caderno 1 é de que "se é verdade que o poder das máquinas multiplicou em muito a capacidade de produzir bens, alimentos e equipamentos, também é verdade que os benefícios de semelhante progresso não foram distribuídos de maneira equânime". Interessante notar que equânime, segundo o dicionário Houaiss, não significa igual, mas sim: "justo, imparcial, moderado, ponderado".
O que pode-se ver, claramente, na época, são patrões e operários em lados opostos: uns proprietários dos meios de produção e do dinheiro, outros da força do trabalho; trabalhadores que tiveram suas terras expropriadas passam a ter também seu trabalho praticamente escravizado, uma vez que "suas condições de trabalho e de vida são muito precárias e desumanas"; alguns enriquecem às custas do empobrecimento de muitos.
Aliás, aqui gostaria de fazer um parênteses com uma reflexão dos dias atuais.
No último dia 19 (de dezembro), houve em Porto Alegre o jogo contra a pobreza, com os times: "Amigos do Zidane" e "Amigos do Ronaldo". Apesar do jogo ser promovido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, e neste ano teve como destinatários da renda obtida no evento um projeto social do Brasil e outro da África.
Aqui no Brasil, os recursos serão enviados para a Rede Esporte para a Mudança Social. Esse projeto tem a iniciativa global da Nike, empresa que em 2011 divulgou um plano para faturar entre 27 e 30 bilhões de dólares em 2015. Além disso, como fechar os olhos para as centenas de milhares de reais pagas mensalmente à maioria desses jogadores? Isso, quando tais valores não chegam às casas dos milhões...
Muito bonita a iniciativa desse projeto que já está na sua décima edição; mas mais importante do que acabar com a pobreza de muitos é acabar com a riqueza de poucos.

*Membro da Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo.
Programa exibido na Rádio 9 de Julho em 01/01/2013. 

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