Marilia Amaral*
Em
meio às manifestações que vêm ocorrendo na cidade de São Paulo, o quê mais me
estranha é ouvir cristãos desfazendo da coragem desses manifestantes que realizam
hoje o 5º ato contra o aumento das tarifas do transporte público.
Vamos
então, apresentar o quê pode e o quê não pode ser feito, segundo a Constituição
Federal; porque antes de nos posicionarmos, temos que ter um olhar amplo sobre a
situação.
O
artigo 5º, que dispõe sobre os direitos e garantias fundamentais, inciso XVI
diz que “todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao
público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à
autoridade competente”.
Pois
bem, o Movimento Passe Livre, ao contrário do que a grande imprensa noticia, é
um movimento pacífico, porém ele não está isento de receber, em suas
manifestações, pessoas desprovidas de razão e que desejam tumultuar os
protestos.
Isso
não é, contudo, privilégio deste movimento: a Parada Gay, a Marcha para Jesus,
a Via-Sacra do Menor são exemplos de reuniões que ocorrem em locais abertos e
que exigem somente o “prévio aviso à autoridade competente” (vejam bem, que
estamos falando de aviso e não autorização, como foi publicado recentemente no
Jornal do Ônibus, a respeito de uma Lei Municipal).
O
aviso à autoridade é para a garantia de que a reunião pacífica ocorra sem
transtornos para os membros desta reunião, logo, a CET deveria se ocupar de
desviar o trânsito, e a polícia, de dissolver conflitos locais, que são
justamente os baderneiros que vão ao evento somente para perturbar o sucesso do
mesmo.
Mas
alguma coisa está errada, então. Porque o quê era para acontecer de forma
pacífica, vem ocorrendo de uma forma selvagem. Mas de onde vem a raiz dessa
violência? Dos manifestantes, como a imprensa televisiva insiste em mostrar? Da
Polícia Militar, como a imprensa teve o desprazer de defrontar? Dos R$
0,20, que por infelicidade, o jornalista Arnaldo Jabor disse não valer os
manifestantes?
Muita
gente tem dissertado a esse respeito, opiniões não faltam.
Para
os cristãos católicos que criticam os manifestantes, lembro da exortação do
Papa Francisco que comentamos na semana passada, sobre a necessidade do cristão
de fazer política. Não façam como Pôncio Pilatos e não lavem as mãos para os R$
0,20 que não te fazem falta, mas que derramará sangue do bolso do teu irmão que
não tem esse dinheiro para pagar a condução. Sejam como Paulo e parem de
combater os cristãos; porém, a única forma é fazendo a experiência do
ressuscitado. Enquanto vocês não participarem do movimento, enquanto sua fé não
significar proporcionar vida em abundância para todos, vocês estarão
perseguindo o próprio Cristo.
Só
quando nos convertermos, tal e qual Paulo, patrono desta cidade, deixaremos a
cegueira e poderemos ver o quão violenta pode ser essa manifestação para os nossos
governantes, para a mídia detentora do monopólio das comunicações, para os
banqueiros, para os grandes empresários, agricultores e pecuaristas; porque vai
arrancá-los do poder, da mesma forma que Jesus recomendou fazer com a árvore
que não dava frutos: para cortá-la e lançá-la ao fogo.
Digo
mais, eu, pessoalmente, não posso participar dessas reuniões, mas outras ideias
vêm surgindo e uma delas é iniciar o boicote aos patrocinadores da Copa do
Mundo.
Lanço
ainda, um pedido, aos grupos carismáticos e outros tantos Grupos de Oração, que
façam parte desse grande movimento: reúnam-se em oração, assim como o fez
Moisés enquanto seu povo lutava. Era seu braço levantado que dava força para o
povo hebreu batalhar. Estejam, então, com suas vozes prostradas em benefício do
bem comum, que como disse o nosso Santo Padre, o Papa, é a forma mais alta de
caridade.
*Membro da Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo.
Programa exibido da Rádio 9 de julho em 17/06/13
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