Dia 06/06/2013 (Quinta Feira) às 19h no TUCA - Rua Bartira 1024, esquina com a Rua Monte Alegre
Histórias que precisam ser contadas para existirem
Foi aprovada a Comissão da Verdade, da Memória e da Justiça da PUC São Paulo que se chamará, com muito orgulho para nós, Reitora Nadir Gouvêa Kfouri, primeira mulher eleita reitora não apenas na história desta Universidade mas de todo o Brasil. Com a criação desta Comissão institui-se na Universidade,como em vários outros lugares em todo o Brasil, um espaço plural, suprapartidário de memória e verdade , na perspectiva de subsidiar a Comissão Nacional da Verdade, contribuindo para a garantia dos Direitos Humanos e da justiça .
As comissões da Verdade são mecanismos institucionais de apuração de abusos e violações de Direitos Humanos com o intuito de desvelar a verdade histórica, construir a memória para que nunca esqueçamos do que nos aconteceu neste período,suas resistências e atrocidades; para que se identifique e se reconheça todos os que participaram destes fatos, tanto os resistentes que reagiram e sofreram com as violências praticadas contra eles, como aqueles que direta ou indiretamente praticaram estas violências,para que se faça justiça. Mais importante, ainda é que no final de toda esta mobilização possamos ter elementos para subsidiar e aprimorar as ações do Estado, em especial a poli tica de Segurança Pública. Para que se consolide no país uma cultura de valorização da vida e dos direitos humanos e que tais fatos nunca mais aconteçam.
Gostaria de ressaltar, também, o papel pedagógico dessas Comissões da Verdade e de todo esse movimento que vem reafirmando o dever da Universidade de produzir conhecimento, sobre esses fatos, comprometido com a verdade histórica para o conhecimento e divulgação de estudos e pesquisas que contribuam para promover a reflexão sobre politicas publicas no campo da garantia dos Direitos Humanos,pois esse é um dos papeis mais importante da Universidade.
Conversando pela rampa e pelos corredores da nossa Universidade, hoje mais triste, mais pacífica e mais passiva vamos nos abrindo depois da noticia da criação da COMISSÃO DA VERDADE e vamos contanto ou recontando nossas historias.Algumas conhecidas,outras esquecidas e outras que nem foram ainda contadas. Surgem exclamações:Voce,também lembra? Quando foi? Quem estava? Você também estava presa?No DOPS?em que ano?Ah! È ! Já tinha até esquecido.
Lembrei-me, como os estivesse vendo, cada qual ao seu jeito, dando aulas, debatendo, atendendo alunos: Octavio Ianni (meu saudoso e querido orientador), Florestan Fernandes, nosso mestre sempre; Maurício Tratenberg.tão irreverente e lúcido; madre Cristina. D. Nadir, Heleieth Safioti e tantas outras e outros que se vivos, aqui, estariam enfrentando o desafio de reconstruir a nossa história, nesse período tão difícil e tão forte. Assim, através desses nomes, reverencio a memória de todos os estudantes, professores e funcionários, queridíssimos companheiros, que participaram de várias formas na construção do projeto democrático e resistente da nossa Universidade.
Tempos de resistência e luta, de historias que precisamos conta-las para que existam, como diz Lucia Murat. Como passar em frente ao TUCA e não lembrar D. Paulo, com sua coragem, sua firmeza na defesa dos direitos dos perseguidos pela ditadura, do acolhimento aos professores e estudantes cassados e do apoio incondicional aos familiares na busca do esclarecimento das mortes e desaparecimentos de militantes políticos.
Mas de que serviria uma Comissão da Verdade que só ficasse na memória do passado, na glorificação das nossas conquistas de resistências e lutas, do repúdio àqueles que nos prenderam, mataram, esconderam cadáveres, destruiram documentos e vidas. Serviria muito pouco se não enfrentássemos esse passado, com o intuito de fortalecer a ideia de uma sociedade de homens livres e de uma Universidade que defenda autonomia, a produção do conhecimento crítico alinhado ao projeto societário de emancipação humana.
A criação da Comissão da Verdade, da Memória e da Justiça Reitora Nadir Govêa Kfouri da PUC-SP, neste momento politico tem um significado, ao meu ver, que vai além do esforço coletivo de testemunhar o passado devendo contribuir para que todos possamos, ao revisitá-lo, resgatar em cada um de nós um pouco da paixão,do prazer e da alegria de fazer politica como fazíamos nos anos difíceis da resistência. Reconhecendo que olhar nosso passado ,com os olhos no presente e a vontade politica de construir o futuro, é um dever ético.
Rosalina de Santa Cruz Leite
Profa. da Faculdade de Ciências Sociais– curso Serviço Social
Membro da Comissão da Verdade Reitora Nadir Gouvêa Kfouri PUC-SP
Fonte: informação recebida via e-mail.
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