Marilia Amaral*
Começando
por onde terminávamos nossa conversa na semana passada, vamos ver o que a
Doutrina Social da Igreja fala a respeito da pessoa humana.
O
número 108, deste documento, dá início ao tema “Criatura à imagem de Deus”, no
qual está descrito:
“A
mensagem fundamental da Sagrada Escritura anuncia que a pessoa humana é criatura
de Deus: ‘Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o
homem e a mulher.’ Deus põe a criatura humana no centro e no vértice da criação:
no homem, plasmado com a terra, Deus insufla-lhe pelas narinas o hálito da
vida. Portanto, ‘por ser à imagem de Deus, o indivíduo humano tem a dignidade
de pessoa; ele não é apenas uma coisa, mas alguém. É capaz de conhecer-se, de
possuir-se e de doar-se livremente e entrar em comunhão com outras pessoas, e é
chamado, por graça, a uma aliança com o seu Criador, a oferecer-lhe uma
resposta de fé e de amor que ninguém mais pode dar em seu lugar’.”
Vejamos
então, que o Catecismo da Igreja Católica ressalta que “o indivíduo humano tem
a dignidade de pessoa; ele não é apenas uma coisa, mas alguém.”
Já
estudamos que um dos fundamentos da nossa Constituição, que encontramos no
inciso III do artigo 1º, é justamente a “dignidade da pessoa humana”, e é sobre
isso que gostaria de fazer algumas provocações para vocês pensarem a respeito.
Para
garantir a dignidade da pessoa humana, a Constituição Federal, assegura a todos
o direito à educação, à saúde, à alimentação, ao trabalho, à moradia, ao lazer,
à segurança, à proteção à maternidade e à infância; e à assistência aos
desamparados.
Pois
bem, nesta sociedade capitalista, nutrida pela disseminação do “senso comum”,
ouvimos, e infelizmente muitos saem repetindo constantemente, que no Brasil
nossos governantes não se importam com a Educação, que não se investe em
Educação porque é melhor um povo ignorante e blá, blá, blá, blá.
Penso
que, para os mais humildes, garantir o acesso à educação é dar-lhes a dignidade
de saberem escrever seus próprios nomes. É oferecer-lhes a oportunidade de
viajar para lugares que sua condição social lhes nega, através do maravilhoso
dom da leitura. Ter o mínimo acesso à Educação é como ter a dignidade de
minimamente ter onde morar, ter o alimento para sobreviver e para alimentar
seus filhos. Ter o mínimo respeito de médicos e de um sistema de saúde que não
lhes obrigue a ficar largados nos hospitais esperando por atendimento.
Penso
que, e gostaria de ouvir a opinião de vocês, o problema do Brasil não é a falta
de políticas de Educação, mas sim, a falta do hálito do Criador. Porque pessoas
que têm amplo acesso à Educação insistem em manter esse sistema desumano e
desigual. Desprezam o pobre e sentenciam-no como vagabundo e preguiçoso, como
se fosse de seu agrado viver dessa forma.
Multiplicam-se,
mais do que o milagre dos pães, mensagens de que eles não querem trabalhar para
continuar vivendo e mamando nas tetas do governo.
Povo
de Deus: o problema não é não gostar ou não querer trabalhar. Sim, eles querem
trabalhar; mas não é humano sair lá do Jardim Miriam, por exemplo, para
trabalhar na Praça da Sé, demorando mais de 2 horas para chegar ao serviço. Num
ônibus que faz mais de 40 paradas e que dependendo do tamanho do ônibus pode
transportar até 6 passageiros em pé, por metro quadrado.
Sugiro,
então, para os grandes banqueiros, para os grandes empresários, e para toda a
população sorteada em nascer em famílias abastadas, que troquem o conforto de
seus helicópteros, seus automóveis e passem a diariamente utilizar o transporte
público para fazer o que mais gostam na vida: trabalhar! Ah, e não se esqueçam
de que é por uma boa causa, porque no final do mês, vocês receberão (quando
muito) 2 salários mínimos!
Sim, falta-nos o hálito da vida do Criador,
para entendermos onde de fato residem as injustiças e poderemos dar-Lhe
verdadeira resposta de amor e de fé, construindo uma sociedade menos desigual e
mais semelhante à imagem de Deus.
*Membro da Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo.
Programa exibido da Rádio 9 de julho em 03/06/13.
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