Marilia Amaral*
Geralmente,
a Pastoral prefere usar esse espaço para tratarmos de assuntos mais didáticos e
assim conseguirmos formar ou melhor compartilhar uma visão política em razão da
fé.
Hoje,
contudo, vamos dar espaço para um acontecimento que ocorrerá nas próximas
semanas e que é de grande valor para a consolidação da democracia. Nos dias 17
e 24 de junho, portanto as próximas duas segundas-feiras, acontecerá às 14
horas, na sala de Sessões da Primeira Turma, no Supremo Tribunal Federal (STF)
a Audiência Pública sobre financiamento de campanha, que é um dos temas da
Reforma Política.
O
evento contará com a participação de 36 expositores, dentre organizações,
movimentos, deputados, ex-ministros, OAB, e para orgulho de nós católicos, a
CNBB será um desses expositores.
De
qualquer forma, será necessário explicarmos a que se refere essa audiência
pública. Vamos ver:
A
OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) encaminho ao Supremo Tribunal Federal uma
Ação Direta de Inconstitucionalidade com pedido de Medida Cautelar para que o
Supremo declare inconstitucional alguns artigos, incisos e parágrafos das Leis
9.096/95 e 9.504/97.
Esses
dispositivos são, por ora, favoráveis à doação efetuada por pessoa jurídica
para compor o Fundo Partidário e à doação de pessoa jurídica para constituir o
fundo dos partidos políticos. Esse pedido da OAB, pede então que seja declarada
a inconstitucionalidade destes dispositivos, além de solicitar, por exemplo que
o Congresso Nacional edite uma lei impondo limites para “doações a campanha
eleitoral, ou a partido por pessoa natural, em patamar baixo o suficiente para
não comprometer excessivamente a igualdade nas eleições”.
Vejam
que as pessoas estremecem ao ouvir falar do financiamento público de campanhas,
sem saber de que se trata o assunto. Sem saber que uma parte do orçamento da
União, logo o dinheiro recolhido, já é destinado ao Fundo Partidário, assim
como multas e penalidades que são aplicadas nos termos do Código Eleitoral, por
exemplo, que sejam efetuadas em dinheiro, também são destinadas a esse Fundo. A
lei 9.096/95 também admite a doação de pessoa física ou jurídica, efetuadas por
intermédio de depósitos bancários diretamente na conta do Fundo Partidário.
Logo,
já existe a possibilidade de uma pessoa física ajudar a “patrocinar “ uma
campanha eleitoral, mas quando as pessoas jurídicas, e aqui sobressaem a
presença de bancos, empresas de construção civil e todo o poder econômico em si
entram nesse jogo, ele fica desigual.
Vejam
uma das justificativa jurídica dada pela OAB.
“Nas
sociedades de massas, o sucesso nas eleições depende, em boa parte, da
realização de campanhas que tendem a envolver um custo econômico elevado. As
chances de êxito dos candidatos nos pleitos eleitorais estão geralmente
condicionadas à divulgação do seu nome e imagem entre o eleitorado, o que
envolve gastos expressivos com a produção de material de propaganda, aquisição
de espaço na mídia, contratação de cabos eleitorais, realização de eventos
públicos e aluguel de imóveis e veículos, dentre inúmeras despesas.
Esta
dinâmica do processo eleitoral... prejudica a capacidade de sucesso eleitoral
dos candidatos que não possuam patrimônio expressivo para suportar a própria
campanha e tenham menos acesso aos financiadores privados, detentores do poder
econômico. Nesta última perspectiva, tal fenômeno gera, inclusive, o
afastamento da política de pessoas que desistem de se candidatar, por não
contarem com os recursos necessários para uma campanha bem sucedida, ou com os “contatos”
que propiciem a obtenção destes recursos.”
Finalizo,
aqui, com as palavras do Santo Padre o Papa Francisco. “Envolver-se na política
é uma obrigação para um cristão. Nós, os cristãos, não podemos fazer de Pilatos
e lavar as mãos, não podemos! Devemos nos meter na política porque a política é
uma das formas mais altas de caridade, porque busca o bem comum. Os leigos
cristãos devem trabalhar na política. A política está muito suja, mas eu
pergunto: ‘está suja por quê?’ Porque os cristãos não se meteram nela com
espírito evangélico?... É fácil dizer que a culpa é dos outros... Mas eu, o que
faço? Isto é um dever.”
Espero
que a TV Justiça transmita essa Audiência Pública para nos posicionarmos de
forma humana e não como marionetes nesse assunto.
*Membro da Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo.
Programa exibido da Rádio 9 de julho em 11/06/13.
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