sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Compra de votos: aqui e lá


Caci Amaral*

As eleições vêm aí!
E, hoje vamos falar do semiárido brasileiro, região aonde as chuvas são poucas e irregulares.
O semiárido espalha–se por municípios de Minas Gerais, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio grande do Norte, Ceará, Piauí, Maranhão nos quais,  22 milhões de pessoas vivem  o drama da pior seca dos últimos trinta anos. Quase que abandonados à própria sorte, espalhados pela zona rural, a população enche as cisternas  apenas quando chega o caminhão pipa.
Nesta luta pela sobrevivência, em plena campanha eleitoral, vereadores, prefeitos e candidatos prometem obras e soluções, usando o direito básico de acesso à água potável e a água para a agricultura,  como moeda de troca para obtenção de votos
Atuando, há anos, na região, a Articulação do Semiárido Brasileiro, ASA, da qual a Cáritas é uma das principais parceiras, denuncia que recursos federais destinados ao socorro da população são  manipulados nos municípios e obras e soluções para a seca são propostas de forma eleitoreira.
Atenta a esta situação de compra de votos, a Articulação do Semiárido Brasileiro lançou a campanha: Não troque seu voto por água. A água é um direito seu. O folheto de divulgação da campanha denúncia: ... o processo de construção da convivência com o Semiárido é longo e muito ainda precisa ser feito para libertar a sociedade das mãos de corruptos que não estão comprometidos com uma política limpa e cidadã. E conclama: Água é direito e não favor! Denuncie o uso eleitoreiro da água para o Tribunal Regional Eleitoral, para o Ministério Público e para a Ordem dos Advogados  de seu estado.
Na cidade de São Paulo, notícia do jornal O Estado de S. Paulo, do dia 30 de julho, p.p., relata situação explícita de compra e venda de votos. O  eleitor se aproxima do assessor de um  candidato a prefeito, aliás, bem colocado nas pesquisas, e oferece dez votos,  a ser conseguido entre familiares, em troca de carta de apresentação para uma bolsa de estudos,  em faculdade. A notícia ainda dá a entender que o assessor aceitou a oferta.
Outro candidato a prefeito, segundo notícia do jornal Folha de S. Paulo, do dia 04 de agosto, p.p., conseguiu adesão à sua candidatura  de importante grupo da igreja evangélica. O pedido ao candidato, da parte do representante da igreja é que o mesmo, caso eleito,  dê tratamento diferenciado na emissão de alvarás de funcionamento para  instalação das igrejas.
Estas e outras situações que o ouvinte bem conhece, são exemplos que definem o contexto no qual se processam as eleições e no qual cada eleitor é chamado a escolher seu candidato para a prefeitura e para a Câmara Municipal. Pode–se afirmar que as eleições acontecem num  contexto de disputa pela conquista do poder a qualquer custo, aplicando–se bem o ditado: o fim justifica os meios. Há partidos, políticos e candidatos que desrespeitam os direitos fundamentais da população, não consideram suas necessidades básicas, não tem o legítimo interesse pela construção do bem comum e suas ações não se pautam pela ética.
É preciso, pois,  que a comunidade reflita sobre os diferentes interesses que estão em jogo nestas eleições,  a fim de que  todas e todos possam  escolher, com critério,  seus candidatos.
É preciso escolher candidatos com uma história de luta pelos direitos do povo,  filiados a partidos que já demonstraram  seu  compromisso  com o combate à miséria, com o  atendimento aos direitos básicos da população, com a participação do cidadão nas decisões sobre a cidade e com a ética na política.
Para colaborar  com a reflexão da comunidade,  a Pastoral Fé e Política faz sugestões  de estudo:
·      O estudo da história dos partidos políticos e de seus principais  candidatos. 
·      A análise da atuação dos vereadores que compõem a atual Câmara Municipal. 
·    A análise dos resultados da Agenda 2012, conjunto de metas apresentadas pelo atual prefeito, metas que obrigatoriamente deveriam estar cumpridas até o final de 2012. Segundo a Rede Nossa São Paulo foram cumpridas apenas 32% destas metas até agora.
·  O estudo das propostas apresentadas pelos candidatos à prefeitura, também encontrados no site da Rede Nossa São Paulo.
·  A análise das propostas do projeto Cidades Sustentáveis, conjunto de indicadores, metas e experiências de cidades que conseguem favorecer e preservar uma ótima qualidade de vida para seus moradores.

O resultado das  reflexões será  transformado  em comunicações para a paróquia, por meio de  textos e frases  afixados no mural da comunidade,  pela  distribuição de folhetos com pequenas mensagens, em banners colocados em destaque dentro e fora da paróquia, em textos colocados nos boletins e sites  paroquiais.
Nesta semana, convocados por Dom Odilo, os bispos auxiliares e os padres da Arquidiocese estão  em  Itaici, para o estudo da  Doutrina Social da Igreja, conjunto de ensinamentos elaborado pela Igreja Católica a partir de seus documentos, sempre fundamentada nas exigências éticas do Evangelho, tendo por objetivo orientar a atuação dos cristãos no mundo. 
Certamente, a reflexão feita pelos presbíteros da Arquidiocese os ajudará a enfatizar em suas paróquias a importância de formular critérios para a escolha dos candidatos na próxima  eleição  municipal.    

*Coordenadora da Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo.
Programa exibido na Rádio 9 de julho – Programa: Igreja  em notícia – 6ªfeira dia 10/08/12 

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