Márcia
Castro*
Nesta reflexão que antecede o Natal
quero neste Ano de Fé refletir com você sobre esse pilar da nossa fé que é o
Santo Natal. O Catecismo da Igreja Católica (CIC) nos apresenta o menino Jesus
que nasceu na humildade de um estábulo, em uma família pobre; as primeiras
testemunhas do evento são simples pastores e é assim que se manifesta a glória
do Céu (525). O que Deus quer nos mostrar
com tão grande evento e tanta simplicidade?
Deus assumiu um corpo (encarnou-se) e
dignou-se nascer de uma Virgem; e nos doou sua própria divindade! Mas e qual é a nossa parte? Jesus nos
ensinou que "Tornar-se criança" é a condição para entrar no Reino;
para isso é preciso humilhar-se, tornar-se pequeno; mais ainda: é preciso
"nascer do alto" (Jo 3,7), "nascer de Deus" para tornar-nos
filhos de Deus. O mistério do Natal realiza-se em nós quando Cristo "toma
forma" em nós (CIC 526) e quando vivemos como irmãos.
O
Centro de Estudo Bíblicos (CEBI) nos ajuda a atualizar o Natal indicando que se
estivesse nascendo agora, pela sua conhecida pobreza, José e Maria procurariam
a emergência de um hospital do SUS e ouviriam da atendente: "Lamentamos,
mas não temos vaga, vocês terão de procurar outro hospital, não temos um leito,
sequer, disponível, nem médicos e enfermeiras suficientes para tanta gente.
Batem
então à porta dos locais por onde passam e veem pessoas comprando nos
shoppings, enfeites belos e iluminados, brindes e comemorações diversas e
também celebrações, mas em nenhum desses lugares são acolhidos.
Seguem
então para o outro lado da avenida e se deparam com uma favela parcialmente
destruída por recente incêndio. Denunciados pelo latido dos cachorros um casal
tão pobre como os recém chegados, pede para eles entrarem imediatamente, pois perceberam
a urgência e dizem: "Podem entrar, a casa é sua". Maria, com muita
dificuldade consegue se deitar num acolchoado velho no chão, a cama do casal.
Três crianças, duas meninas e um menino, dormem profundamente, recolhidas em
outro acolchoado.
S. Antonio vai pedir ajuda enquanto
Joana ferve água para escaldar uma faca de cozinha. Alice, a vizinha amiga
responde imediatamente ao pedido e traz um lençol surpreendentemente limpo.
Logo em seguida ouve-se o choro do pequeno que se livrou do ventre materno,
separado pela faca de Dona Joana. Um choro alto e forte, de quem sorve o
primeiro ar e reclama a primeira mamada.
A alegria é de todos, os demais
moradores da favela, vem saudar o menino e se oferecem para ajudar e partilham
vestes para o recém-nascido. A solidariedade amorosa, feita de palavras e
gestos, todos querendo repartir o pouco que tem com o casal de migrantes que
festeja a chegada do primeiro filho.
A realidade atual não
nos deixa duvidar de que, hoje como ontem, são milhares as crianças que nascem
nas condições miseráveis nas quais nasceu o Menino Jesus, e são os adultos
sem-terra, sem-teto, moradores de rua que morrem por defender a mesma Justiça
que Ele defendeu. Precisamos estar atentos para não darmos preferência às
coisas, às mercadorias, aos símbolos do consumo, do que às pessoas, aquelas que
conosco vivem, especialmente as que, como o Menino Jesus, são necessitadas e
pobres.
Há um poder que usa de força
e repressão como vimos no com os sem-terra do Pinheirinho no início deste ano,
a constante criminalização e ações de higienização para tirar da cidade esse
povo pobre, e também perseguição àqueles que os defendem, como vemos atualmente
as ameaças à D. Pedro Casaldáliga entre outros que estão sendo ameaçados e
também assassinados.
O
natal nos convida a partilhar o que temos, não aquilo que sobra e a sermos
solidários com o sofrimento e as necessidades daqueles ao nosso redor e se
possível servi-los enxugando-lhe os pés, envolvendo-se em ações que vão
promover a dignidade e a vida.
*Membro
da Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo
Apresentado
no Programa Igreja em Notícia da
Rádio 9 de Julho em 21/12/2012
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