sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Fé, esperança e caridade no tempo sagrado do Advento


Márcia Castro*
            No Ano da Fé, a Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo quer refletir com você a Carta Pastoral de Dom Odilo Scherer: Senhor, aumentai a nossa fé! O Cardeal nos pergunta "Não será verdade que o mundo, ao nosso redor, ou até mesmo dentro de nossa casa e na Comunidade da Igreja, tem fome e sede de ouvir a Palavra de Deus?
            O alimento da é a Palavra de Deus, anunciada e acolhida com coração aberto. A catequese está a serviço do crescimento e do amadurecimento da fé e da vida cristã. A catequese de iniciação à vida cristã acontece normalmente na infância e na adolescência; mas precisa acontecer também na vida adulta, acompanha a vida inteira do cristão. Nesse Ano da fé somos chamados pelo Papa Bento XVI a conhecer melhor o Catecismo da Igreja Católica, um livro precioso, que todas as famílias deveriam ter em casa, junto com a Bíblia.
            Iniciamos novo Ano Litúrgico, o Ano C, e refletiremos o Evangelho de Lucas. O ano inicia no tempo do Advento, um tempo sagrado que segundo o  Catecismo da Igreja Católica a Igreja atualiza a espera do Messias ao celebrar a cada ano a liturgia do Advento, comungando com a primeira vinda do Salvador e o ardente desejo de sua Segunda Vinda (CIC 524).
            Vou refletir com você a espiritualidade do advento a partir dos escritos do teólogo José Lisboa Moreira de Oliveira que nos diz que não se trata da comemoração de um acontecimento do passado, mas a sua reatualização. O cristão se conecta à Cristo tornando-se ramos verdes da grande videira que é Jesus (Jo 15,1-6). O objetivo de tudo isso é robustecer a fé, a esperança e a caridade. O tempo do Advento, período de quatro semanas que antecede o Natal, procura nos ajudar a refletir sobre a esperança, uma das características fundamentais do cristianismo.
            A esperança brota da certeza de que o Reinado de Deus já está acontecendo no meio da humanidade. Apesar das nossas fragilidades, da violência e da injustiça, Deus Trindade vai conduzindo a história humana na direção daquela Plenitude que ele mesmo sonhou para todo o universo, e que se encontra no seu Filho Jesus (Cl 1,19-20). É a esperança que alimenta a nossa existência e nos faz, como Abraão, "esperar contra toda esperança” (Rm 4,18). A esperança nos impulsiona a seguir, mesmo quando tudo  parece desmoronar e não ter mais sentido. A esperança não é apenas uma "virtude cristã”, mas dimensão essencial da existência cristã, graça que já nos foi dada por Cristo. Não é preciso mais conquistá-la. Ela já está dentro de nós. Basta perseverarmos nela: "Na esperança, nós já fomos salvos” e "é na perseverança que aguardamos o fruto que dela virá” (Rm 8,24-25).
            Infelizmente boa parte do povo cristão ainda vive na desesperança. Sinal evidente disto é a corrida desesperada por milagres e curas e consumo de "kits de salvação” (medalhas, santinhos, frascos de água benta e de óleos etc.). Esta falta de esperança leva ao descompromisso e à indiferença. Leva ao individualismo religioso: cada um querendo se salvar sozinho e para se salvar sozinho quer sempre levar vantagem sobre os outros. O máximo que fazemos são alguns atos assistencialistas, como distribuição de comidas, roupas e cobertores em determinadas ocasiões. Mas, nos recusamos a exercer a cidadania e a participar ativamente da vida social, como nos pediu o Concílio Vaticano II. E sem este tipo de participação e de engajamento não há como mudar os destinos do mundo.
            É verdade que o Reinado de Deus já está acontecendo, mas o Pai quer que, pela esperança ativa, apressemos a sua chegada e a sua plena realização (2Pd 3,12). A humanidade tem o direito de receber dos cristãos um testemunho concreto de esperança (1Pd 3,15). Este testemunho concreto não acontece por meio de palavrórios, de rezarias e de esmolinhas, mas da participação ativa em projetos de justiça e de solidariedade. De fato, como nos ensina Tiago, a fé sem ações concretas é um cadáver (Tg 2,26).
            Somos, pois, convidados a viver o tempo do Advento como tempo de esperança. Esperança não concorda com tristeza, mesmo quando as coisas parecem caminhar para o precipício. Esperança envolve alegria (1Ts 2,19-20)! Precisamos devolver a alegria ao tempo do Advento: "Fiquem sempre alegres no Senhor! Que a alegria de vocês seja notada por todos. O Senhor está próximo. Não se inquietem com nada” (Fl 4,4-6).


*Membro da Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo
Exibido no Programa Igreja em Notícias da Rádio 9 de Julho em 07/12/12 



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