Iniciamos nosso comentário de hoje repercutindo o
grande volume de notícias que mencionam a baixa taxa de crescimento e a
dificuldade em avançar em investimentos necessários para o desenvolvimento da
economia. De fato, o crescimento neste ano será pequeno, confirmando que muitas
medidas tomadas ao longo dos últimos meses, como as quedas na taxa de juros e a
ampliação no crédito, não atingiram os resultados imediatos desejados de
ampliação da produção industrial e das exportações e, por extensão, de aumento
da riqueza. Estão claras, entretanto, as limitações ao crescimento econômico no
plano global e as dificuldades para avançar e corrigir distorções que, no plano
interno, vem de longe, exigindo medidas ainda mais ousadas de enfrentamento,
como a questão agrária, da superação da miséria, da redução da desigualdade e
da melhoria sustentável da economia.
Porém, há outros indicadores e sinais em relação ao
desempenho do Brasil e de sua população que apontam em outra direção: a de
avanços contínuos e progressivos, que vão redefinindo muitos aspectos da vida
social e mudando a sociedade brasileira. O baixo crescimento econômico se
combina com altos níveis de emprego, com avanços no bem estar social e no
otimismo da população.
O Índice de Desenvolvimento
Econômico Sustentável feito pela empresa internacional de consultoria BCG, comparando indicadores econômicos
e sociais de 150 países mostrou que se o Produto Interno Bruto brasileiro
cresceu a um ritmo médio anual de 5,1% entre 2006 e 2011, os ganhos sociais
obtidos no período são equivalentes aos de um país que tivesse registrado
expansão anual de 13% da economia: “O Brasil diminuiu consideravelmente as
diferenças de rendimento entre ricos e pobres na década passada, o que permitiu
reduzir a pobreza extrema pela metade. Ao mesmo tempo, o número de crianças na
escola subiu de 90% para 97% desde os anos 90″. O estudo deixa claro, no
entanto, que o progresso do Brasil deve ser visto como um desenvolvimento de um
país que vinha de uma base muito baixa, de décadas com um nível muito ruim de
desenvolvimento social, de descaso por parte de governos e por políticas
econômicas voltadas apenas para o grande capitalismo. Portanto, estas melhorias
nos últimos cinco anos em várias áreas, até mesmo em infraestrutura, significam
que ainda é preciso avançar muito mais.
Para este resultado contribuiu o aumento de 172% do
gasto do governo federal com políticas sociais, entre 1995 e 2010, chegando a
R$ 638,5 bilhões, ou 15,24% da soma das riquezas produzidas no país. O aumento
no gasto com políticas sociais per capita cresceu 125% nos últimos 16 anos,
fazendo com que o valor destinado às políticas sociais por cidadão brasileiro,
em média, tenha sido em 2010 mais que o dobro do que foi em 1995, ou seja, pouco
mais de R$ 3 mil. Segundo o Instituto IPEA algumas políticas mantidas e
consideradas estratégicas foram responsáveis pelos índices contrários observados
no restante do mundo, como é o caso da política de valorização do salário
mínimo, a expansão do Bolsa Família, o Fundeb e o Reuni, dentre outras. Além
disso, houve um esforço de elevação dos recursos destinados à habitação popular,
uma novidade que também teria contribuído para os resultados.
Também tem sido muito comentado que a alta do
crédito no Brasil tem levado a índices de endividamento e inadimplência
elevados. Embora uma parcela das pessoas que compram a prazo tenha
dificuldades, o fato é que nos últimos três anos, o crédito cresceu, em média,
por ano, no Brasil, 13,5 pontos percentuais a mais do que o PIB, levando-o, desde
2004, de cerca de 25% do PIB para os atuais 50%. E isto é bom, pois reflete uma
tendência de queda sustentável e profunda dos juros, de consolidação de uma
política fiscal com maiores condições de consumo, que chega até o crédito
imobiliário, favorecendo o importante sonho da casa própria. Com isto, o
mercado interno e o consumo das famílias pode crescer, ajudando a manter a
economia aquecida, apesar da taxa de crescimento não ser elevada.
Tudo isto levou a taxa de desemprego medida pelo
IBGE de novembro a ficar no nível mais baixo dos últimos 10 anos, ou seja, de
4,9%, representando um aumento de 2,5% no número de trabalhadores com carteira
assinada, em relação ao ano anterior. Outra pesquisa importante nessa área, a
Pesquisa Emprego e Desemprego, mostrou a taxa de desocupação caindo para 10%,
considerada muito baixa comparada com os níveis históricos.
Ou seja, é claro que há muito a fazer. Mas é
preciso considerar também que os avanços que hoje se observam, irão influenciar
o desenvolvimento social nos próximos anos. Exemplos disso são, por exemplo, os
consistentes avanços na redução da mortalidade infantil, e diversos sinais de
melhoria na educação e em outras políticas públicas. Novos governos municipais que
iniciarão suas gestões também tendem a ter um maior compromisso e atenção
quanto às políticas públicas e as políticas sociais. Nos próximos anos serão
sentidos os efeitos das políticas afirmativas, trazendo mais negros para uma
condição de acesso a níveis de cidadania e inserção social que hoje
infelizmente são desfrutados apenas por segmentos populacionais que
historicamente concentraram diversos privilégios. Também nos permitimos
imaginar que situações terríveis como a violência institucionalizada no estado
de São Paulo serão cada vez menos aceitas pelo conjunto da população, levando a
um novo ciclo de políticas públicas que desmontem o círculo vicioso da
violência.
O longo caminho a percorrer tem grandes questões
sobre as quais precisamos amadurecer, como País: precisamos que nosso
desenvolvimento seja sustentável, ou seja, que não destrua o meio ambiente nem
impeça as condições de sobrevivência das populações tradicionais. Outro desafio
é do avanço no campo do combate à corrupção e da continuidade da melhoria
institucional, com leis e dispositivos como a transparência da Lei de Acesso à
Informação e a Ficha Limpa, ou a Lei de combate à corrupção que pune as
empresas que corrompem políticos e agentes públicos. Sonhamos, por fim, com uma
reforma política que estabeleça o fortalecimento dos partidos políticos e o
financiamento público de campanhas. E mantemos o compromisso com a ampliação
dos mecanismos de participação popular, convencidos que quanto maior a
proximidade entre povo e estado, entre sociedade civil e sociedade política,
melhor será a qualidade da democracia e os avanços no desenvolvimento social!
Boas festas!
Visite o blog da pastoral fé e
política http://pastoralfp.blogspot.com/ especialmente a seção Cidadania Ativa!!
*Professor da PUC-SP, colaborador da Pastoral Fé e Política e da Escola
de Governo de São Paulo.
Programa exibido na Rádio 9 de Julho em 26/12/12.
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