sexta-feira, 1 de março de 2013

DEIXA A CÚRIA, PEDRO

(Poema de Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito de S. Félix do Araguaia para reflexão pós-renúncia do papa)


Deixa a Cúria, Pedro,

Desmonta o sinedrio e as muralhas,
... Ordene que todos os pergaminhos impecáveis sejam alterados
pelas palavras de vida, temor.



Vamos ao jardim das plantações de banana,
revestidos e de noite, a qualquer risco,
que ali o Mestre sua o sangue dos pobres.



A túnica/roupa é essa humilde carne desfigurada,
tantos gritos de crianças sem resposta,
e memória bordada dos mortos anônimos.



Legião de mercenários assediam a fronteira da aurora nascente
e César os abençoa a partir da sua arrogância.
Na bacia arrumada, Pilatos se lava, legalista e covarde.



O povo é apenas um "resto",
um resto de esperança
Não O deixe só entre os guardas e príncipes.
É hora de suar com a Sua agonia,
É hora de beber o cálice dos pobres
e erguer a Cruz, nua de certezas,
e quebrar a construção - lei e selo - do túmulo romano,
e amanhecer
a Páscoa.



Diga-lhes, diga-nos a todos
que segue em vigor inabalável,
a gruta de Belém,
as bem-aventuranças
e o julgamento do amor em alimento.



Não te conturbes mais!
Como você O ama,
ame a nós,
simplesmente,
de igual a igual, irmão.
Dá-nos, com seus sorrisos, suas novas lágrimas,
o peixe da alegria,
o pão da palavra,
as rosas das brasas...
... a clareza do horizonte livre,
o mar da Galileia, ecumenicamente, aberto para o mundo.



Pedro Casaldáliga, Bispo

Nenhum comentário:

Postar um comentário