terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Exigências Éticas da Ordem Democrática


Marilia Amaral* 

Vamos retomar o Documento Exigências Éticas da Ordem Democrática, nº 72, que foi justamente onde paramos na semana passada. Ele diz assim: “A situação em que vivem os pobres é critério para medir a bondade, a justiça, a moralidade, enfim, a efetivação da ordem democrática. Os pobres são os juízes da vida democrática de uma nação”.
Aí eu pergunto a vocês. Em que situação que vivem os pobres do nosso país? Porque como diz o texto, a resposta desta pergunta é que determinará a bondade de seu povo, a justiça de suas leis e a moralidade de seus governantes. A forma de viver dos pobres em determinada nação é que julga se esta nação está agindo de forma democrática ou não.
E aqui eu gostaria de fazer um parênteses enorme. Gostaria até de que os mantenedores de hospitais e escolas que têm denominação de santos e santas da Igreja entrassem em contato conosco através do e-mail da pastoral contato@pastoralfp.com, para nos explicar como essas instituições colaboram com a democracia.
Porque este final de semana eu fui visitar uma amiga que ganhou um bebê e dei preferência em fazer essa visita antes do almoço, já que a maior parte dos amigos e parentes deveriam deixar para fazê-lo após esse horário. E qual não foi a minha surpresa quando me disseram que o horário da visita seria somente após às 14h. Eu cheguei a questionar o esquema desse hospital, já que dos 3 partos que eu tive, nenhum dos hospitais tinha essa restrição, ao que fui informada que para quartos o horário de visita é livre, mas para enfermaria, não.
Quantos e quantas de vocês já passaram por situação semelhante? Perguntam o seu plano de saúde, o seu padrão para saber o tratamento que você vai receber. Perguntam quantas estrelas tem o seu talão de cheque para saber de que forma que irão tratar o cliente. Até em parques de diversão, resolveram fazer um passaporte VIP para as pessoas que não desejam ficar nas filas dos brinquedos. E quantas outras situações pessoas são desmerecidas pelo “padrão de conforto” que elas optaram. Como se fosse simples assim...
O que me deixa indignada é que instituições financeiras são obras do capitalismo, mas hospitais com nomes de santos fazerem essa diferenciação soa como heresia. Ou não? Eu até cheguei a questionar a possibilidade de mudarem o nome do hospital para Santo Dinheiro, ou Santa Interesseira, que parecia refletir melhor a visão daquela instituição...
Voltando à nossa Constituição Federal de 88, já vimos que a República Federativa do Brasil é um Estado Democrático de Direito e que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Será que somos?
Essa história é até leve perante dezenas de milhares de violações que ocorrem todos os dias, que violam não só a Constituição, mas também os Direitos Humanos. Minha indignação com hospitais e escolas católicos é que eles passam por desumanos, levando ao esgoto o nome da Igreja, já que bondade, justiça e moralidade não necessariamente são os valores nos quais eles se pautam.
“Quem não te aceita, quem te rejeita, pode não crer por ver cristãos que vivem mal. Senhor Piedade, Senhor Piedade, Senhor Piedade, Piedade de nós!”.
*Membro da Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo.
Programa exibido da Rádio 9 de julho em 05/02/2013.

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