Marilia Amaral*
Vamos
retomar o Documento Exigências Éticas da Ordem Democrática, nº 72, que foi
justamente onde paramos na semana passada. Ele diz assim: “A situação em que
vivem os pobres é critério para medir a bondade, a justiça, a moralidade,
enfim, a efetivação da ordem democrática. Os pobres são os juízes da vida
democrática de uma nação”.
Aí
eu pergunto a vocês. Em que situação que vivem os pobres do nosso país? Porque
como diz o texto, a resposta desta pergunta é que determinará a bondade de seu
povo, a justiça de suas leis e a moralidade de seus governantes. A forma de
viver dos pobres em determinada nação é que julga se esta nação está agindo de
forma democrática ou não.
E aqui eu gostaria de fazer um parênteses
enorme. Gostaria até de que os mantenedores de hospitais e escolas que têm
denominação de santos e santas da Igreja entrassem em contato conosco através
do e-mail da pastoral contato@pastoralfp.com,
para nos explicar como essas instituições colaboram com a democracia.
Porque
este final de semana eu fui visitar uma amiga que ganhou um bebê e dei
preferência em fazer essa visita antes do almoço, já que a maior parte dos
amigos e parentes deveriam deixar para fazê-lo após esse horário. E qual não
foi a minha surpresa quando me disseram que o horário da visita seria somente
após às 14h. Eu cheguei a questionar o esquema desse hospital, já que dos 3
partos que eu tive, nenhum dos hospitais tinha essa restrição, ao que fui
informada que para quartos o horário de visita é livre, mas para enfermaria,
não.
Quantos
e quantas de vocês já passaram por situação semelhante? Perguntam o seu plano
de saúde, o seu padrão para saber o tratamento que você vai receber. Perguntam
quantas estrelas tem o seu talão de cheque para saber de que forma que irão
tratar o cliente. Até em parques de diversão, resolveram fazer um passaporte
VIP para as pessoas que não desejam ficar nas filas dos brinquedos. E quantas
outras situações pessoas são desmerecidas pelo “padrão de conforto” que elas
optaram. Como se fosse simples assim...
O
que me deixa indignada é que instituições financeiras são obras do capitalismo,
mas hospitais com nomes de santos fazerem essa diferenciação soa como heresia.
Ou não? Eu até cheguei a questionar a possibilidade de mudarem o nome do
hospital para Santo Dinheiro, ou Santa Interesseira, que parecia refletir
melhor a visão daquela instituição...
Voltando
à nossa Constituição Federal de 88, já vimos que a República Federativa do
Brasil é um Estado Democrático de Direito e que todos são iguais perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza. Será que somos?
Essa
história é até leve perante dezenas de milhares de violações que ocorrem todos
os dias, que violam não só a Constituição, mas também os Direitos Humanos.
Minha indignação com hospitais e escolas católicos é que eles passam por
desumanos, levando ao esgoto o nome da Igreja, já que bondade, justiça e
moralidade não necessariamente são os valores nos quais eles se pautam.
“Quem
não te aceita, quem te rejeita, pode não crer por ver cristãos que vivem mal.
Senhor Piedade, Senhor Piedade, Senhor Piedade, Piedade de nós!”.
*Membro da Pastoral Fé e Política da
Arquidiocese de São Paulo.
Programa exibido da Rádio 9 de julho em 05/02/2013.
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