Marilia Amaral*
Falando
ainda sobre Democracia Participativa, vamos ver o que o Papa João Paulo II diz
a respeito dela na Encíclica Centesimus Annus, nº 46:
“A
Igreja encara com simpatia o sistema da democracia, ENQUANTO ASSEGURA A
PARTICIPAÇÃO DOS CIDADÃOS NAS OPÇÕES POLÍTICAS E GARANTE AOS GOVERNADOS A
POSSIBILIDADE DE ESCOLHER E CONTROLAR OS PRÓPRIOS GOVERNANTES, QUER DE OS
SUBSTITUIR PACIFICAMENTE, QUANDO TAL SE TORNE OPORTUNO."
Vejam,
então que esta democracia que o Papa afirma que a Igreja aprecia é justamente a
democracia participativa. Porque não é suficiente somente escolher os
representantes, como acontece na democracia indireta, mas é necessário que os
cidadãos possam controlá-los e possam participar nas opções políticas.
E
João Paulo II continua:
"Uma
autêntica democracia só é possível num Estado de direito e sobre a base de uma
reta concepção da pessoa humana. Aquela (a autêntica democracia) exige que se
verifiquem as condições necessárias à promoção quer dos indivíduos através da
educação e da formação nos verdadeiros ideais, quer da ‘subjetividade’ da
sociedade, mediante a criação de estruturas de participação e
co-responsabilidade”.
Quando
o Papa cita que uma autêntica democracia só é possível num Estado de direito,
lembramos novamente o caput do art.
1º da Constituição Federal de 1988, onde encontramos: "A República
Federativa do Brasil, constitui-se em um Estado Democrático de Direito".
Primeiro devemos entender que um Estado de Direito é um Estado baseado em leis
escritas e o acréscimo de Democrático a esse Estado de Direito garante que essas
leis escritas devem ter valor, princípios democráticos. E não há como se pensar
em democracia sem assegurar a dignidade da pessoa humana, citada em ambos os
documentos, na Encíclica do Papa e como fundamento da Constituição.
Percebam
que, mais uma vez, a visão da Igreja vai de encontro à nossa Constituição e
mais uma vez afirmo que aqueles que dizem que o Estado é laico ou que religião
e política não se misturam é porque não entendem de nenhuma das duas coisas. Ou
pior até, são políticos que se omitem de seu compromisso de representar a
sociedade e fazer valer a Constituição, uma vez que estamos cansados de ouvir
que nossa Constituição apesar de maravilhosa é utópica; ou então, são cristãos
que não assumiram o compromisso de anunciar o Evangelho a toda a criatura. E
aqui eu estou me referindo a um anúncio autêntico, com sinais que arrastam e
não com palavras que voam ao vento.
Pois
bem, o espaço já está preparado: temos muitos movimentos e pastorais engajados
não só em construir, como também em sustentar essa democracia participativa.
Depende de vocês servirem-se desta refeição!
*Membro da Pastoral Fé e Política da
Arquidiocese de São Paulo.
Programa exibido da Rádio 9 de julho em 11/02/2013.
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