Marilia Amaral*
Prosseguindo
nossa jornada nas trilhas da Doutrina Social da Igreja, e mais especificamente
da Democracia Participativa, vamos dar continuidade à leitura do documento
Exigências Éticas da Ordem Democrática que iniciamos na semana passada.
O
número 66 falava da liberdade de participação nos assuntos econômicos,
políticos, culturais e sociais de toda a sociedade.
Hoje
veremos que, embora livres, temos um compromisso, uma responsabilidade, eu
diria, cristã para fazer cumprir, para efetivar a democracia na nossa nação, na
nossa sociedade. Ouçamos o que diz os números 70 e 72 deste documento:
“Por
outro lado, a construção da democracia é a criação das condições necessárias
para que os homens, como cidadãos, rompam o isolamento e sua desagregação
social e ocupem o espaço público, através da discussão, da negociação, do
diálogo e da decisão (EEOD, n. 70).”
Percebemos
assim, que para que possamos construir realmente uma democracia, um Estado
Democrático de Direito, como diz o caput
do artigo 1º da nossa Constituição, precisamos que sejam oferecidas condições
para ocuparmos o espaço público.
Essas
condições já são oferecidas, pelo menos aqui em São Paulo, por meio das
audiências públicas, da eleição dos representantes da sociedade civil no
Conselho Consultivo no Programa de Metas, entre outros programas. Obviamente
precisamos fazer mais, porque nem toda a sociedade tem consciência dessa
necessidade de participação, de ocupação do espaço público.
Mas,
o que eu gostaria de chamar a atenção de vocês é para o número seguinte, o
número 72, que diz:
“A
existência de milhões de empobrecidos é a negação radical da ordem democrática.
A situação em que vivem os pobres é critério para medir a bondade, a justiça, a
moralidade, enfim, a efetivação da ordem democrática. Os pobres são os juízes
da vida democrática de uma nação (EEOD, n. 72).”
Vocês
conseguem entender a necessidade da nossa participação. A Igreja nos mostra uma
dimensão que vai além da simples participação por ideal, que tem a ver com
compromisso da construção do Reino de Deus, da garantia da justiça. Como
podemos afirmar a existência de um sistema democrático frente a verdade, aí
sim, que é a existência de milhões de empobrecidos?
Para
os que se omitem politicamente, a Bíblia denuncia várias vezes: “por vossa
causa o nome de Deus é blasfemado entre as nações”. Essa citação pode ser
encontrada em Is 52, 5. Ez 36, 20-22. Rm 2,24; Tg 2,7. 2Pd 2,2.
Jon
Sobrino ainda afirma que é “desumanizante a insensibilidade diante do mero fato
da coexistência de ricos e pobres” e relembra as palavras de Ignacio Ellacuría:
“A Somália é como um espelho invertido no qual o primeiro mundo se vê em sua
verdade. São as fezes que aparecem na copro-análise desse primeiro mundo”.
*Membro da Pastoral Fé e Política da
Arquidiocese de São Paulo.
Programa exibido da Rádio 9 de julho em 28/01/2013.
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