quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Novas perspectivas para a Campanha de Lei de Iniciativa Popular de Reforma Política


Pedro Aguerre* 
No comentário de hoje voltamos ao tema da reforma política, tema este prioritário para a sociedade civil e para as organizações que atuam pela mudança das regras que ainda favorecem a corrupção eleitoral.
Alguns novos apoios de peso estão se engajando na luta pela reforma política, em especial, a OAB – Ordem dos Advogados do Brasil, que retomou seu protagonismo em grandes causas da República ao sediar o lançamento em todo o País de uma campanha para apresentar projeto de lei de iniciativa popular propondo uma reforma política à Nação, com foco na proibição do financiamento de campanhas eleitorais por empresas (pessoas jurídicas). Além de ser constituída uma comissão de relatores do projeto de iniciativa popular, foram debatidas metodologias de trabalho e formas para estimular a participação popular na discussão da reforma – inclusive com sugestões ao projeto – e para  a coleta de cerca de 1,5 milhão de assinaturas, necessárias à apresentação da reforma ao Congresso Nacional.
O evento, coordenado pelo juiz Marlon Reis, reuniu entidades de destaque da sociedade civil - como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), o Instituto de Fiscalização e Controle (IFC) e a Avaaz, entre outras. O Juiz, autor do importante livro Direito Eleitoral Brasileiro, ressaltou que “as eleições estão mercantilizadas, as eleições estão caríssimas. Há uma preponderância do abuso de poder econômico e isso precisa mudar. Hoje nós demos o primeiro passo no sentido da união da sociedade brasileira para que essa mudança aconteça.”
Lembrando que além de defender as prerrogativas do advogado, cabe à OAB protagonizar grandes causas da República, pela melhoria dos costumes políticos, dos costumes sociais e pela melhoria da sociedade brasileira, o presidente nacional da OAB, Marcus Vinicius Furtado, afirmou que, “no exato momento em que a sociedade brasileira relembra a grande vitória que foi a Lei da Ficha Limpa, ela reedita esse movimento para que tenhamos no Brasil eleições limpas, o que significa dizer que não podemos conviver com o financiamento de campanhas por empresas”. Nas palavras dele: “temos que possibilitar a existência do financiamento democrático das campanhas eleitorais, para que as pessoas de bem do nosso país possam participar da atividade política sem a necessidade de se envolver com o financiamento por empresas privadas. Isso, sem dúvida alguma, será uma ação que irá combater as causas dos problemas políticos do nosso país, porque combater apenas as consequências tem se demonstrado não suficiente. Cezar Britto, membro honorário vitalício do Conselho Federal da OAB, afirmou que a reforma política é a mãe de todas as reformas e que a eleição tem que refletir, de fato, o que pensa o eleitor.
Esta reunião se soma às manifestações que marcaram o início do ano legislativo. Embora suscite mais diferenças do que consensos, o tema foi destacado como prioritário na Mensagem da Presidente da República ao Congresso na Abertura do Ano Legislativo, bem como nos compromissos de campanha de vários candidatos à Mesa Diretora e nos discursos dos novos líderes partidários, de partidos tão diversos como o Dem, PT e PSOL. São manifestações relevantes pois retomam o debate do assunto depois da fracassada tentativa de votar o tema no fim do ano passado, quando, sob a relatoria do Deputado Henrique Fontana, a proposta enfatizou o financiamento público de campanhas, o fim de coligações proporcionais, a coincidência de data das eleições e a mudança na data de posse dos cargos executivos.
Durante o lançamento da Campanha da Fraternidade, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na última quarta-feira (13/02), o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, sinalizou para o apoio do governo federal à proposta da Ordem dos Advogados do Brasil de promover uma reforma política agindo diretamente sobre o financiamento das campanhas eleitorais. Ele disse que o governo não apenas “endossa a proposta, que é fundamental para todos nós”, como também manifestou votos para que a campanha da OAB seja vitoriosa. “Conte conosco”, disse, reafirmando que o governo Dilma Rousseff considera importante a proposta de Reforma.
Foi nesse mesmo encontro que o presidente da OAB, lembrou que “a reforma política tem a ver com o tema da Campanha da Fraternidade, que é a proteção e a participação da juventude”, para quem “a participação política da juventude é tema que deve ser alvo do presente, e não do amanhã; para tanto, é necessário democratizar o sistema político-eleitoral”.
Outra frente de atuação das entidades representativas da sociedade civil é no âmbito do Supremo Tribunal Federal onde já se fala abertamente na possibilidade de o ministro Luiz Fux submeter ao plenário nos próximos meses a Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) nº 4650, que trata do financiamento das campanhas eleitorais. Ele é o relator da ação, que foi movida pela OAB, tendo admitido formalmente dar preferência à matéria.
Artigo recente de Henrique Fontana, relator do projeto de Reforma Política, mostra dados contundentes da necessidade de coibir o poder econômico:
O volume de gastos nas campanhas tem sido decisivo na eleição de um candidato, apontam dados do TSE. Dos 513 eleitos para a Câmara, 369 foram os candidatos que mais gastaram nas campanhas de 2010. Os 513 eleitos gastaram, em média, doze vezes mais do que o restante dos candidatos (em alguns estados, trinta vezes mais). Os gastos declarados em campanhas eleitorais saltaram de R$ 800 milhões para R$ 4,8 bilhões em oito anos.
Atualmente, o financiamento das campanhas é misto, cabendo uma parte a doadores particulares e outra aos cofres públicos, por meio dos fundos partidários e do horário gratuito de televisão e rádio. Os que defendem o financiamento exclusivamente público acreditam que ela vai reduzir a corrupção política e equilibrar a disputa, hoje cada vez mais concentrada na capacidade de cada candidato ou partido de arrecadar recursos.
Outro fator que contribuirá para o fortalecimento da campanha pela Reforma Política é o Fórum pela Reforma Política, programado para os meses de março e julho, no Rio de Janeiro, organizado pelo Comitê Rio Ficha Limpa – que compõe a Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma Política. O Fórum debaterá temas essenciais num processo de reforma do sistema político, como Financiamento de campanhas, Sistema de voto e Coligações.
Visite o site da Reforma Política e conheça mais sobre o assunto:
Visite o blog da pastoral fé e política http://pastoralfp.blogspot.com/ especialmente a seção Cidadania Ativa!!
*Professor da PUC-SP, colaborador da Pastoral Fé e Política e da Escola de Governo de São Paulo.
Programa exibido na Rádio 9 de Julho em 20/02/2013.

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