Pedro Aguerre*
O Brasil está próximo de
mais uma eleição municipal. Desde o fim da ditadura até hoje foram sete
eleições municipais. Na cidade de São Paulo ganharam mandatos populares Mário
Covas, Jânio Quadros, Luiza Erundina, Paulo Maluf, Celso Pitta, Marta Suplicy,
José Serra e Gilberto Kassab. E nenhum desses foi reeleito. No máximo, como é o
caso do atual, tivemos o afastamento do titular, após tão-somente 13 meses de
governo, para disputar outras eleições, deixando o governo na mão do vice, que,
aí sim, após três anos de mandato, sentado na cadeira de Prefeito, disputou e
ganhou as eleições de 2006, o que lhe garantiu, ao todo, sete anos consecutivos
de gestão. Pensando nas grandes cidades brasileiras, poucas tiveram
continuidade política por muitos anos, o que nos permite dizer que a
alternância do poder é uma tradição bastante consolidada nas eleições
municipais.
Nas demais cidades da
Grande São Paulo, em geral, as dinâmicas políticas locais também marcam as
disputas eleitorais, permitindo antever uma situação de certo equilíbrio entre
forças políticas de diferentes orientações, sejam aquelas chamadas
conservadoras ou progressistas.
Esta realidade nem sempre
é estampada pela mídia, que às vezes dedica mais atenção à eleição
norte-americana e opta por concentrar o noticiário com poucas questões, como é
o caso do julgamento em curso no STF. Apesar da importância do caso, surpreende
a linha editorial adotada quando ocupa o tempo dos espectadores mostrando
resultados parciais, longos debates sobre cada voto de cada um dos ministros do
Supremo, ao longo de semanas e mais semanas. Essa opção deixa em segundo plano
a discussão das causas, dos problemas da legislação eleitoral, do financiamento
de campanhas, da reforma política, conforme temos tentado insistir neste
espaço. Imaginem se as grandes redes de televisão se envolvessem com o abaixo
assinado pela reforma política como o fizeram, em certo momento, com a Ficha
Limpa!!
Em compensação, pouco
espaço é dedicado às realizações ou falhas dos prefeitos, aos graves problemas
das cidades, às necessidades da população nas grandes cidades, e quase nunca
esta reflexão ocupa os horários nobres, como se o que fazem e deixam de fazer
os políticos em nossas cidades não fosse um assunto importante. E temas como os
níveis de aprovação dos políticos e de suas gestões, se cumpriram os
compromissos ou não, e o diálogo sobre os planos de governo e os compromissos
assumidos pelos candidatos, ficam, infelizmente, para trás.
Com tudo isso, o debate e a reflexão política do dia-a-dia na sociedade – nas ruas, nos espaços de trabalho e nos transportes coletivos – acabam muitas vezes marcados por alguns tipos de opinião como “são todos iguais”, “político não presta”, e coisas assim que acabam gerando um certo curto-circuito, pois a maioria da população compreende que a política não é um mal em si mesmo, mas um caminho que segue paralelamente à vida social, às vezes pior, às vezes melhor, mas que é um dos principais caminhos que temos à disposição. Tanto é assim que os níveis de prestígio dos governantes nem sempre são negativos, muitas vezes suas práticas são valorizadas e respeitadas, quando não admiradas!
Mas há, além do voto,
outras formas de participação muito importantes. O movimento Ficha Limpa, que
inaugurou seu novo sítio no endereço www.fichalimpa.org.br, é um ótimo exemplo
das lutas da população organizada por uma nova política. A Lei Ficha Limpa,
que foi aprovada graças à mobilização de milhões de brasileiros tornou-se um
marco fundamental para a democracia dando um novo valor à luta contra a corrupção
e a impunidade no país buscando a valorização do voto popular.
No novo sítio podemos ver
os instrumentos de denúncia que temos à disposição observando dá frutos de uma
conquista verdadeiramente coletiva. Entre as notícias que lá encontramos,
verificamos, por exemplo, que os Procuradores Regionais Eleitorais do Estado de
São Paulo já analisaram 504 casos de impugnação de registro de candidatura que
envolveram a aplicação da Lei da Ficha Limpa levando o Tribunal Regional
Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) a indeferir 78 registros de candidatos a
prefeito, 14 a vice-prefeito, e 160 a vereador, números que tendem a aumentar.
Mas neste momento, a
prioridade é garantir a melhor qualidade possível para o exercício do voto! Por
isso, me permitirei insistir: verificaram os candidatos e candidatas a
vereador? Consultaram pessoas de confiança em suas comunidades? Encontraram
pessoalmente? Viram a propaganda eleitoral verificando quais os candidatos que
acompanham candidatos e candidatas à Prefeitura de sua cidade, sejam por um
partido ou por uma coligação? Podemos supor que muitos ouvintes terão grande
dificuldade para chegar em nomes que lhes passem realmente confiança. E boas
intenções não bastam, infelizmente... Para estes eleitores uma boa solução pode
ser votar na legenda do partido preferido. Com isto se fortalecem os partidos e
vai se criando uma cultura política de valorização do parlamento, evitando a
dúvida diante daquela pergunta que se tornou tão desconfortável: você lembra em
quem votou na última eleição?
*Professor
da PUC-SP, colaborador da Pastoral Fé e Política e da Escola de Governo de São
Paulo.
Programa da Pastoral Fé e Política exibido na Rádio 9 de Julho em 19/09/2012.
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