quarta-feira, 19 de setembro de 2012

As eleições municipais e a formação da opinião política por parte dos eleitores



Pedro Aguerre*
O Brasil está próximo de mais uma eleição municipal. Desde o fim da ditadura até hoje foram sete eleições municipais. Na cidade de São Paulo ganharam mandatos populares Mário Covas, Jânio Quadros, Luiza Erundina, Paulo Maluf, Celso Pitta, Marta Suplicy, José Serra e Gilberto Kassab. E nenhum desses foi reeleito. No máximo, como é o caso do atual, tivemos o afastamento do titular, após tão-somente 13 meses de governo, para disputar outras eleições, deixando o governo na mão do vice, que, aí sim, após três anos de mandato, sentado na cadeira de Prefeito, disputou e ganhou as eleições de 2006, o que lhe garantiu, ao todo, sete anos consecutivos de gestão. Pensando nas grandes cidades brasileiras, poucas tiveram continuidade política por muitos anos, o que nos permite dizer que a alternância do poder é uma tradição bastante consolidada nas eleições municipais.
Nas demais cidades da Grande São Paulo, em geral, as dinâmicas políticas locais também marcam as disputas eleitorais, permitindo antever uma situação de certo equilíbrio entre forças políticas de diferentes orientações, sejam aquelas chamadas conservadoras ou progressistas.
Esta realidade nem sempre é estampada pela mídia, que às vezes dedica mais atenção à eleição norte-americana e opta por concentrar o noticiário com poucas questões, como é o caso do julgamento em curso no STF. Apesar da importância do caso, surpreende a linha editorial adotada quando ocupa o tempo dos espectadores mostrando resultados parciais, longos debates sobre cada voto de cada um dos ministros do Supremo, ao longo de semanas e mais semanas. Essa opção deixa em segundo plano a discussão das causas, dos problemas da legislação eleitoral, do financiamento de campanhas, da reforma política, conforme temos tentado insistir neste espaço. Imaginem se as grandes redes de televisão se envolvessem com o abaixo assinado pela reforma política como o fizeram, em certo momento, com a Ficha Limpa!!
Em compensação, pouco espaço é dedicado às realizações ou falhas dos prefeitos, aos graves problemas das cidades, às necessidades da população nas grandes cidades, e quase nunca esta reflexão ocupa os horários nobres, como se o que fazem e deixam de fazer os políticos em nossas cidades não fosse um assunto importante. E temas como os níveis de aprovação dos políticos e de suas gestões, se cumpriram os compromissos ou não, e o diálogo sobre os planos de governo e os compromissos assumidos pelos candidatos, ficam, infelizmente, para trás.
Com tudo isso, o debate e a reflexão política do dia-a-dia na sociedade – nas ruas, nos espaços de trabalho e nos transportes coletivos – acabam muitas vezes marcados por alguns tipos de opinião como “são todos iguais”, “político não presta”, e coisas assim que acabam gerando um certo curto-circuito, pois a maioria da população compreende que a política não é um mal em si mesmo, mas um caminho que segue paralelamente à vida social, às vezes pior, às vezes melhor, mas que é um dos principais caminhos que temos à disposição. Tanto é assim que os níveis de prestígio dos governantes nem sempre são negativos, muitas vezes suas práticas são valorizadas e respeitadas, quando não admiradas!
Mas há, além do voto, outras formas de participação muito importantes. O movimento Ficha Limpa, que inaugurou seu novo sítio no endereço www.fichalimpa.org.br, é um ótimo exemplo das lutas da população organizada por uma nova política. A Lei Ficha Limpa, que foi aprovada graças à mobilização de milhões de brasileiros tornou-se um marco fundamental para a democracia dando um novo valor à luta contra a corrupção e a impunidade no país buscando a valorização do voto popular.
No novo sítio podemos ver os instrumentos de denúncia que temos à disposição observando dá frutos de uma conquista verdadeiramente coletiva. Entre as notícias que lá encontramos, verificamos, por exemplo, que os Procuradores Regionais Eleitorais do Estado de São Paulo já analisaram 504 casos de impugnação de registro de candidatura que envolveram a aplicação da Lei da Ficha Limpa levando o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) a indeferir 78 registros de candidatos a prefeito, 14 a vice-prefeito, e 160 a vereador, números que tendem a aumentar.
Mas neste momento, a prioridade é garantir a melhor qualidade possível para o exercício do voto! Por isso, me permitirei insistir: verificaram os candidatos e candidatas a vereador? Consultaram pessoas de confiança em suas comunidades? Encontraram pessoalmente? Viram a propaganda eleitoral verificando quais os candidatos que acompanham candidatos e candidatas à Prefeitura de sua cidade, sejam por um partido ou por uma coligação? Podemos supor que muitos ouvintes terão grande dificuldade para chegar em nomes que lhes passem realmente confiança. E boas intenções não bastam, infelizmente... Para estes eleitores uma boa solução pode ser votar na legenda do partido preferido. Com isto se fortalecem os partidos e vai se criando uma cultura política de valorização do parlamento, evitando a dúvida diante daquela pergunta que se tornou tão desconfortável: você lembra em quem votou na última eleição?

*Professor da PUC-SP, colaborador da Pastoral Fé e Política e da Escola de Governo de São Paulo.
Programa da  Pastoral Fé e Política exibido na Rádio 9 de Julho em 19/09/2012.

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