Pedro Aguerre*
A aproximação das
eleições movimenta a sociedade civil e política. É um momento de intensificação
das campanhas, para a disputa do voto dos eleitores o que traz certa tensão e
expectativa junto à opinião pública, seja pela própria dinâmica eleitoral seja
por outros fatos que circundam a eleição.
Com relação à dinâmica
eleitoral, vai se confirmando a expectativa de que as eleições devam ser
momento de aprendizado e de ampliação de consciência de uma sociedade, portanto
positivo, mesmo com os conflitos, que fazem parte, dados os grandes interesses
que se enfrentam. Diante dessa dinâmica, estimula-se o olhar vigilante da
sociedade, sua capacidade de denunciar abusos e demonstrar seu mal estar com
práticas clientelistas ou de aparelhamento do governo que, infelizmente, ainda
são frequentes. Com a facilidade tecnológica atual, este tipo de
constrangimento aos eleitores ou aos funcionários públicos pode ser mais
facilmente denunciado ao disque-denúncia eleitoral, o que é uma grande
diferença em relação a eleições passadas,
A realização de eleições
a cada dois anos também acaba produzindo uma dinâmica rotineira na democracia
representativa, que, em nossa visão, contribui para o aprimoramento da
cidadania e das instituições. A admissão da constitucionalidade na aplicação da
Lei da Ficha Limpa nestas eleições, pelo Supremo Tribunal Federal, é um exemplo
destes importantes avanços. Acreditamos que a população percebe que se, neste
momento inicial, o principal valor da Ficha Limpa é o de tirar da eleição
candidatos condenados por órgão colegiado, como mostramos no comentário
anterior, essa Lei mostra também um enorme potencial de contribuir para a
democratização da política, das eleições e dos novos governos que serão
constituídos, a partir de 2013. A consistente ação dos procuradores regionais
eleitorais mostra a força desse novo caminho, seja ao penalizar partidos que
não cumprem a legislação de estímulo à participação da mulher, seja no
cruzamento de bancos de dados para encontrar e denunciar candidatos enquadrados
na Lei. Mas também fica claro que estes avanços ainda precisam ser consolidados
e ampliados, uma vez que o sistema partidário e a legislação eleitoral têm
fragilidades que acabam comprometendo a soberania popular do povo à hora de
escolher, livre e conscientemente, seus candidatos, o que só uma reforma
política mais ampla e abrangente poderá ajudar a sanar.
Vejamos a questão da
escolha dos candidatos. O atual sistema de coligações não se restringe aos
candidatos majoritários, e invade as eleições para vereadores. No caso da
eleição majoritária fica bastante claro para o eleitor que cada candidato ou
candidata à prefeitura representa um partido ou conjunto de partidos que se
aglutinou em torno de uma proposta e um programa. No segundo caso, no entanto,
a extensão da regra das coligações para a eleição dos vereadores faz com que as
regras de apuração dos votos possam distorcer a vontade do eleitor. Por
exemplo, esta regra pode levar à eleição de candidatos com poucos votos, que se
favorecem do cálculo do quociente eleitoral, e recebem em cascata, os votos dos
chamados puxadores de votos e celebridades que às vezes não tem a menor
afinidade com a política. Também pode acontecer que o candidato de um partido
A, dado o cálculo do quociente partidário, se eleja em uma certa coligação,
tendo tido menos votos individualmente do que um candidato do partido B, que
tenha tido mais votos.
Estes fatores
exemplificam a maior dificuldade da eleição para vereador do que para prefeito.
Se os candidatos a prefeito só nas últimas semanas da eleição vão se
tornando conhecidos consolidando as intenções de voto, o mesmo não se repete no
caso dos vereadores. Principal foco de atenção da disputa eleitoral, os
candidatos a prefeito participam de debates, entrevistas, sabatinas, tendo sua
performance de ascensão ou queda refletida em pesquisas periódicas de diversos
institutos de pesquisa. E a opinião pública acaba prestando muito mais atenção
às questões que surgem desse embate, especialmente em sua exposição nos meios
de comunicação de massas. E quanto às eleições para os parlamentos municipais?
Quando se olha para a
eleição proporcional, do legislativo municipal, surgem dificuldades para o
eleitor, que vão além do pouco tempo disponível no horário eleitoral gratuito.
Primeiramente, destacamos
o problema da tendência histórica à reeleição. Nas regras atuais, esta pode ser
indefinida, havendo casos de vereadores que são candidatos para um sétimo ou
oitavo mandato (ou seja, quase vereadores vitalícios). Este é o caso de 2,4%
dos 435 mil candidatos a vereador no País, que têm enorme vantagem de saída em
relação aos demais por contarem com uma estrutura muito maior, mais
profissionalizada, geralmente com mais recursos. Outro grupo é dos candidatos
que são muito próximos e afinados com os candidatos a prefeito e que tendem,
por isso mesmo, a levar muitos votos que são dados aos candidatos a prefeito.
Muitos destes poderão ser verdadeiros campeões de voto, embora nem sempre por
suas qualidades ou projetos mas por sua proximidade do poder. Em terceiro
lugar, há um enorme contingente de candidatos, digamos assim, honorários, ou
seja, que constam das listas de candidatos mas que não tem condições objetivas
de disputar pra valer, com estrutura e apoio partidário, como é o caso da
maioria absoluta das mulheres inscritas no pleito. De fato, se as candidatas
mulheres são 31%, é pequena a expectativa de que elas superem 10% das
vereadoras eleitas. Com tudo isso, o espaço para os candidatos com maior
vocação e condições de prestar um serviço de qualidade para o povo que o elege,
fica estreitado! Estes, geralmente têm menos recursos e estão mais distantes
dos centros de poder, tendo maiores dificuldades em se tornarem conhecidos e
terem os votos necessários.
Em discussão sobre o voto
consciente, realizada neste último sábado na Diocese de Campo Limpo, com o
Conselho Diocesano de Leigos e o Fórum das Pastorais Sociais, discutiu-se
bastante a questão de como compatibilizar os candidatos que queremos eleger com
os candidatos que estão se apresentando, efetivamente. Desta forma, destacou-se
a reflexão sobre que tipo de eleitor temos que ser para exercer um voto
consciente, se aquele que se dispõe a ser instrumento da vontade de terceiros
ou aquele que buscará, efetivamente, um certo perfil de candidatos, que assuma
compromissos que atendam os interesses legítimos da sociedade. Isto inclui
observar os valores e propostas, se são da situação ou da oposição, se suas
propostas são coerentes com o partido pelo qual disputam a eleição.
Por tudo isto, nem sempre
é possível amadurecer esta escolha muito antes da eleição, até por falta de
informação. Esta reflexão, assim, nos convida a fazer um importante esforço
nesta e na próxima semana para definir o perfil desejado de nosso candidato a
representante legislativo: quero reeleger alguém que, a meu ver, fez um mandato
excepcional? Diante de uma resposta que muitas vezes poderá ser negativa, fica
então o desafio de encontrar um bom nome que nos inspire seriedade e confiança:
que programa ou candidato ele defenderá; que tipo de parceria ele quer
estabelecer com nossa região de moradia e com suas comunidades; qual o seu
partido e sua plataforma política; que tipo de prestação de contas e mecanismos
de participação ele se compromete a garantir? Se você já o encontrou, ainda há tempo
de conseguir muitos votos para ele ou ela em suas redes sociais! Caso contrário, não espere a última hora, pesquise, converse, e tente definir sua escolha com antecipação!!
*Professor da PUC-SP, colaborador da Pastoral Fé e Política e da Escola de
Governo de São Paulo.
Programa exibido na Rádio 9 de julho em 26/09/2012.
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