Pedro Aguerre*
A data da eleição
aproxima-se rapidamente e a campanha vai ganhando a opinião pública e as ruas.
Depois de meses em que era um assunto que atingia apenas uma pequena parcela da
sociedade, hoje a maior parte da população já passa a participar mais
ativamente. O assunto está nos meios de comunicação, nas campanhas dos
partidos, que buscam difundir os candidatos e suas propostas, no corpo-a-corpo
dos candidatos que visitam os bairros e comunidades e tentam criar fatos
políticos. Nesta dinâmica, os candidatos tentam responder às dúvidas e
situações que provocam curiosidade ou desconfiança dos eleitores, como por
exemplo, se os candidatos tem um programa para a Cidade, se ele foi construído
com ampla participação ou não e quais as metas e propostas concretas para cada
região da cidade.
Junto com a campanha,
lances de bastidor agitam o cenário. Por exemplo, ontem o candidato que até a
última pesquisa estava em primeiro lugar na cidade de São Paulo, desistiu de
participar de um debate marcado para o próximo dia 20 e que se mostrava
fundamental para esclarecer os compromissos com a cidade, o plano de governo.
Enquanto se avança na
campanha eleitoral e a população amplia seu conhecimento dos candidatos, há
alguns sinais positivos de aprimoramento da democracia, que iremos comentar.
A primeira notícia, que
demarca a vitória da sociedade civil representada pela Lei da Ficha Limpa, é de
que os Tribunais Regionais Eleitorais barraram, até este momento, 317
candidatos a prefeito. Os partidos com mais candidatos barrados no país foram o
PSDB, PMDB, PP e PR. No estado de São Paulo foram 53 os candidatos denunciados.
Evidentemente, esses candidatos tem o direito constitucional a recurso no
Tribunal Superior Eleitoral, mas não deixa de ser uma notícia fundamental para
ampliar a ética na política. A segunda notícia é que, com base na inovadora Lei
de Acesso à Informação, esse tribunal publicou nomes de empresas e pessoas físicas
doadoras das campanhas eleitorais. Este é um passo importante pois antes desta
Lei estas informações eram fornecidas após as eleições, impedindo
questionamentos.
De qualquer forma,
sabemos que a legislação eleitoral tem que ser amplamente revista; tanto que há
uma iniciativa popular de reforma política em plena fase de coleta de
assinaturas.
Para concluir, voltaremos
a um tema de grande importância, a participação feminina na política. Atualmente,
são apenas 12% as vereadoras brasileiras. Nesta eleição, porém, dos 420 mil
candidatos, o número de mulheres inscritas passou do percentual de 30% que é exigido
pela legislação dos partidos. A deputada Jô Moraes atribui o grande crescimento
a dois fatores principais: ao aumento da visibilidade da participação política
da mulher provocada pela eleição de uma presidenta da República que, no cargo,
incluiu 10 ministras capazes no primeiro escalão”, e à decisão do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), encabeçada por outra mulher, a ministra Carmem Lúcia,
de ser absolutamente rigorosa na exigência de que se compusessem as chapas com
a participação obrigatória de 30% de mulheres: “Isso fez com que os partidos
políticos se dedicassem mais a cumprir com rigor, porque se não eles teriam
suas chapas reduzidas na participação masculina."
Essa é uma boa notícia
que aumenta as chances de se encontrar boas candidatas mulheres. No entanto,
não tira nossa responsabilidade na hora de escolher o candidato ou candidata a
vereador. Como nosso sistema político tem tido sempre a presença majoritária do
homem na situação de comando partidário, alguns partidos tem inscrito
candidatas mulheres sem experiência política e sem espaço real no partido,
apenas para “fazer número”, para burlar a Lei Eleitoral.
Além da
importância de conhecer os candidatos e discutir suas propostas, dialogando com
amigos e colegas nas comunidades, uma das formas de conferir a seriedade dos
partidos é conferir o horário eleitoral nas terças, quintas e sábados e
observar o perfil dos candidatos e candidatas a vereador de cada partido e
coligação. Aí já vai se tornando possível verificar a seriedade das
candidaturas, pois uma boa lista de candidatos a vereador é um sinal de
responsabilidade política. Apesar do pouco tempo de TV, torna-se possível
observar se a trajetória e histórico dos vereadores enfatiza o interesse
público, se eles tem currículo, ou se são compostas de pessoas sem histórico de
participação na vida política que, depois de eleitas, poderão ter compromissos
com outros que não a população da cidade que os elegeu.
Ter ficha limpa, ser
homem ou mulher, ser trabalhador ou funcionário público, ser jovem ou idoso são
condições importantes e interessantes dos candidatos, mas são absolutamente insuficientes.
Os candidatos têm que ir além, tendo prestado relevantes serviços à população,
com projetos e propostas para a cidade e para as regiões ou para determinados
segmentos sociais.
*Professor
da PUC-SP, colaborador da Pastoral Fé e Política e da Escola de Governo de São
Paulo.
Programa da Pastoral Fé e Política, apresentado na Rádio 9 de julho em 12/09/2012.
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