Marilia Amaral*
Estava lendo um texto de Leonardo Boff, onde ele fala sobre o novo Presidente da Congregação da Doutrina da Fé, o bispo Gerard Müller e transcreve o pronunciamento feito pelo bispo em 2009 a respeito da Teologia da Libertação.
Dom Gerard Müller termina sua fala com uma citação dos Atos dos Apóstolos que permito-me repetir para vocês, acrescentando o versículo que introduz o trecho. Está em At 2,42-47.
"Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações. Apossava-se de todos o temor, pois numeroso era os prodígios e sinais que se realizavam por meio dos apóstolos.
Todos os que tinham abraçado a fé reuniam-se e punham tudo em comum: vendiam suas propriedades e bens, e dividiam-nos entre todos, segundo as necessidades de cada um. Dia após dia, unânimes, mostravam-se assíduos no Templo e partiam o pão pelas casas, tomando o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e gozavam da simpatia de todo o povo. E o Senhor acrescentava a cada dia ao seu número os que seriam salvos." Palavra do Senhor.
Esse texto da Bíblia parece até com aquele dilema: "Quem veio primeiro: o ovo ou a galinha?", mas vai além. Aqui teríamos o questionamento: "A comunidade dividia seus bens segundo suas necessidades porque tinham abraçado a fé (logo, era um sinal da ressurreição de Jesus) ou abraçavam a fé porque viam que a comunidade era capaz de dividir seus bens segundo suas necessidades? A assiduidade da oração é que transformava suas vidas ou por suas vidas terem sido transformadas as pessoas perseveravam na oração?".
Complicou? Então vamos por partes e assim procurar descobrir onde estamos errando por não conseguir viver da mesma forma.
No primeiro versículo, Lucas nos fala (já que é atribuída a ele a autoria do livro dos Atos dos Apóstolos) que "eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações".
O que esse versículo nos recorda? A Liturgia, talvez. Já que nela temos a Leitura da Bíblia, ou seja, o ensinamento dos apóstolos; a comunhão fraterna, no nosso ofertório; a fração do pão, na Eucaristia; e as orações.
Vivendo a Eucaristia eles eram capazes de realizar prodígios e sinais. Aqui já percebemos que estamos em desvantagem, talvez porque não estejamos tão assíduos na participação da Liturgia; muitas vezes nos atentamos a cumprir o ritual de ir todos os domingos à missa, mas sem necessariamente viver a dimensão litúrgica, já que aprender o que os apóstolos nos ensinaram sobre Jesus Cristo implica necessariamente em conversão, em viver uma realidade onde o "eu" não importa mais, mas sim o "nós".
Viviam tanto o "nós" que colocavam tudo em comum. Tenho visto muitas pessoas, nas redes sociais, dizerem que não vão votar mais. E as razões são sempre individuais.
Dificilmente encontramos uma pessoa dizer que este ou aquele político decepcionou a comunidade que tinha votado nele, porque quando a comunidade escolhe um representante ela governa junto, ela legisla junto e ela supervisiona também. E pensando por esse lado, é fácil de entender porque no Brasil existe tanta desigualdade, porque até agora somente os banqueiros, as empreiteiras, as imobiliárias é que conseguiram se organizar dessa forma.
Assim como os primeiros cristãos, precisamos colocar nosso voto em comum, para mudarmos a vida dos que mais necessitam.
*Membro da Pastoral Fé e Política - Região
Episcopal Santana.
Programa exibido
da Rádio 9 de julho em 17/09/2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário