A
eleição vem aí!
E o inverno chegou trazendo logo no seu início muita chuva e
frio. Que tal um chocolate quente, uma casa acolhedora, um sofá, filmes,
música, um programinha na TV? Melhor que isso, a saborosa sopa acolhendo aos que da chegam da rua, com frio e fome.
Mas,
a cidade de São Paulo, que se prepara para as eleições e para o inverno se esqueceu dos milhares de pessoas
que moram nas ruas. Poucos jornais noticiam,
a televisão não mostra, mas ao passar
pelas ruas, praças, viadutos e avenidas você
os enxerga: em pequenos grupos, enrolados, cobertores cinzentos, tentando se acomodar para
enfrentar a noite. São milhares deles e pouquíssimos locais de acolhida, em
geral distantes, fora do trajeto das
pessoas que moram nas ruas.
As
eleições vêm aí!
O
partido do prefeito conseguiu que o Supremo Tribunal Federal autorizasse tempo
de propaganda na TV, durante o horário político gratuito, além do recebimento de verba do Fundo
Partidário. Dinheiro e tempo de TV
colocados à disposição dos partidos coligados com o PDS, Partido Social
Democrático.
Mas,
fica a pergunta: e o dinheiro para atender a população de rua, para sua
educação, atendimento à saúde, a
construção e manutenção de abrigos, convênios com entidades sociais que os atendam com dignidade e projetos de melhoria da sua qualidade de vida?
Maria
José e Jesus da Silva também sonham com um café quente ao final da tarde. Além
de morar na rua, Maria José e Jesus da Silva ficaram sem o café e passaram um susto ao
ouvir a notícia sobre a suspensão do fornecimento do sopão. Foi apenas um susto!
Que teve origem em notícia publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, a partir
de declaração, já adianto, desautorizada pelo prefeito, do seu Secretário de Segurança Urbana, Dr. Edson
Ortega: a prefeitura iria impedir a distribuição de refeições para os moradores de rua, pelas entidades beneficentes.
Há
pessoas que desejam não ver os moradores de rua: consideram que
devem ser retirados das praças e avenidas, alegando que estas devem estar desimpedidas para a livre
circulação dos transeuntes. Defendem a liberdade
de ir e vir, sem transtornos nem sustos,
pois vem nos moradores de rua ameaça a sua integridade física. Pouco se lhes
importa para aonde e em que condições serão removidos! O que interessa é que sumam da vista das pessoas ditas “pessoas
de bem”. Interessa uma cidade limpa!
O
promotor de Justiça, para as áreas de habitação e
urbanismo da cidade de São Paulo, Dr. Mauricio
Antonio Ribeiro Lopes, em recente artigo no jornal A Folha de S. Paulo, perguntava, ao se referir aos
moradores de rua e às manifestações contrárias a presença dos mesmos nos largos, praças e avenidas: “para quem é
inaceitável a situação de rua? Para os incomodados com a própria miséria ou
para os que são incomodados com a miséria alheia?”
O
promotor continua: “Somos os últimos a
defender que nada deve ser feito. Mas, quando é imperioso que se faça alguma
coisa, exatamente como no caso da cracolândia, não podemos nos contentar quando
se faz qualquer coisa - e não devemos
aceitar quando se faz a pior coisa”.
“Atentar contra a liberdade (dos moradores de rua,
impedindo-os de andar e se acomodar
pelas ruas da cidade) sem oferecer uma política pública que satisfaça realmente
os anos de abandono social não é medida que se deva ousar pensar, ousar dizer e
menos ainda ousar escrever”.
Na
cidade, segundo dados da Rede Nossa São
Paulo, estavam morando na rua ou em
situação de rua, 13. 866 pessoas e informações
da Agenda 2012 da prefeitura de São Paulo dão conta de que estão à disposição dessa população 14 Centros de Serviço de higiene pessoal da
população de rua.
Como
você, a família, vizinhos e a comunidade reagem à presença dos moradores de
rua? Os moradores de rua atendidos pela paróquia são incentivados e preparados
para participar das ações que lhes dizem
respeito? Ou, apenas objeto da caridade
assistencialista que não transforma suas vidas?
Teremos
sensibilidade, discernimento e
solidariedade suficiente para compreender a situação extrema em que vivem? Temos
propostas de políticas públicas construídas junto com os grupos que convivem com esta realidade e junto com a população de rua? Construídas de
forma participativa, com criatividade e
ousadia, considerando os moradores de rua sujeitos políticos capazes de se autodeterminarem?
Qual
a posição dos partidos políticos e de seus candidatos para a questão? O que
pensam sobre o tema os candidatos que procuram a comunidade para pedir apoio e
votos?
Pesquise
e aprofunde o tema na comunidade. Procure o Vicariato do Povo da Rua, serviço
pastoral da Arquidiocese de São Paulo, que acolhe moradores de rua na Casa de Oração do Povo de
Rua, telefone 3228-6223.
Que
o Espírito Santo nos dê sabedoria para escutar a Jesus que nos fala pelos
fracos e empobrecidos.
*Coordenadora da Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo
Programa apresentado pela PFP na Rádio 9 de Julho em 06/07/2012
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