sexta-feira, 19 de julho de 2013

As políticas públicas para a juventude no Brasil e o Encontro Mundial da Juventude


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Pedro Aguerre* 

É uma alegria voltar utilizar o espaço da Pastoral Fé e Política junto à rádio 9 de julho, no momento especial da véspera da Jornada da Juventude, quando delegações de todo o mundo chegam a diversos estados do País para a Pré-jornada ou jornada missionária.
A XXVIII Jornada Mundial da Juventude será realizada de 23 a 28 de julho de 2013 na cidade do Rio de Janeiro e tem como lema “Ide e fazei discípulos entre todas as nações” (Mt 28, 19) e terá o seu ápice com a bem vinda presença do Papa Francisco. A última edição internacional da JMJ foi realizada em agosto de 2011, na cidade de Madri, na Espanha, e reuniu mais de 190 países. O primeiro Encontro Internacional da Juventude aconteceu em 1984, na Praça São Pedro, no Vaticano quando o Papa João Paulo II entregou aos jovens a Cruz que se tornaria um dos principais símbolos da JMJ, conhecida como a Cruz da Jornada.
O ano seguinte, 1985, foi declarado Ano Internacional da Juventude pelas Nações Unidas e, no mesmo ano, o Papa anunciou a instituição da Jornada Mundial da Juventude.
Assim, o ano de 1985 é um marco para a juventude católica, mas também para as juventudes de todo o mundo e de todas as confissões religiosas. Porque é nesse momento, com o “Ano Internacional da Juventude – Participação, Desenvolvimento e Paz”, que a ONU define como jovens as pessoas entre 15 e 24 anos, marcando o avanço de ser finalmente conceituada como um segmento social específico e particular, que faz juz a direitos, sendo, portanto sujeito de direitos. Na década seguinte, junto com a elaboração do Programa Mundial de Ação para a Juventude (PMAJ), os países-membros da ONU são convocados a pensarem estratégias para o presente e o futuro dos jovens e a elaborarem uma Política Nacional de Juventude. No Brasil, a faixa-etária do jovem foi ampliada em relação ao parâmetro da ONU, passando a ser considerada a faixa que vai dos 15 aos 29 anos. A Secretaria Nacional de Juventude, posteriormente, a desdobrou em três categorias intermediárias, contribuindo no desenvolvimento de políticas públicas adequadas: jovem-adolescente, com 15 a 17 anos; jovem-jovem, entre 18 e 24 anos, e jovem-adulto, entre 25 e 29 anos. Mas ainda foi necessário passarem-se dez anos para a instituição da Secretaria Nacional de Juventude (SNJ), do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) e do Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Projovem), em junho de 2005 pela Lei 11.129.
De lá para cá, houve um inegável avanço nas políticas públicas para jovens, simbolizada pela aprovação no Senado e na Câmara dos Deputados, do Estatuto da Juventude, marco regulatório de direitos, que define os parâmetros das políticas públicas para a juventude e que seguiu para a sanção presidencial. O texto define princípios e diretrizes para o Poder Público criar e organizar políticas para cidadãos de 15 a 29 anos de idade.
Aliás, junto com essa importante notícia, fruto da luta da juventude organizada no Brasil, vale destacar o lançamento pela Secretaria Nacional da Juventude do Participatório, ou seja, um novo canal de diálogo direto, um espaço virtual interativo voltado à produção do conhecimento sobre a juventude, e as políticas públicas com participação e mobilização social com a Juventude. O Evento de lançamento tem transmissão ao vivo, a partir das 10:30 da manhã do dia 17 de julho, pela página  www.participatorio.juventude.gov.br, ou nas mídias sociais, quando serão apresentados os primeiros resultados da Pesquisa Perfil da Juventude Brasileira – realizada pela Secretaria Nacional de Juventude, de modo a possibilitar maior e melhor apropriação desta nova ferramenta por todos, sociedade, governos e demais interessados nas políticas para/sobre a juventude.
Esta longa introdução mostra alguns avanços e momentos importantes da constituição da juventude como sujeito de direitos. Mas por que é importante esta discussão? Por vários motivos. Fundamentalmente, em função de serem os jovens um segmento social que vê seus direitos sociais violados sistematicamente no mercado de trabalho, na situação de vulnerabilidade social, na dimensão de gênero e na dimensão étnico-racial.
Na dimensão educação, observam-se milhões de jovens ainda sem concluírem o ensino fundamental e médio. Na dimensão trabalho, a categoria dos jovens enfrenta situação de baixos salários e precariedade trabalhista, além de maior taxa de desemprego em relação ao conjunto da população. Esta situação de vulnerabilidade social tem um recorte étnico-racial  uma vez que afeta muito mais as populações negra e indígena, que, sendo mais da metade da população brasileira jovem, não consegue alcançar 10% do topo das remunerações e da conclusão do ensino superior.
Um exemplo definitivo, contudo, é o da violência letal. Estudo divulgado em recente seminário promovido pelo Ipea, intitulado Custo da Juventude Perdida no Brasil, mostrou que mais de 53 mil pessoas são assassinadas por ano e que as vítimas tornaram-se cada vez mais jovens. O perfil desses jovens, vítimas dos vários tipos de mortes violentas, é em sua maioria homens negros, pardos ou pretos, com 4 a 7 anos de estudo, mortos nas vias públicas, por armas de fogo. O Ipea calculou o custo das mortes violentas de jovens no país em termos de perda de bem-estar social, equivalente a R$ 79 bilhões por ano ou 1,5% da soma de todos os bens e serviços produzidos no país. Nas palavras do próprio autor, “a taxa de mortalidade é um custo em termos de dor, sofrimento, perda de produtividade, e representa um grande custo econômico”.
Este cenário trágico exige um grande esforço do conjunto da sociedade, para detectar os principais problemas e estratégias para seu enfrentamento.
Os homicídios são hoje a principal causa de morte de jovens de 15 a 29 anos no Brasil e atingem especialmente jovens negros do sexo masculino, moradores das periferias e áreas metropolitanas dos centros urbanos. Dados do Ministério da Saúde mostram que mais da metade (53,3%) dos 49.932 mortos por homicídios em 2010 no Brasil eram jovens, dos quais 76,6% negros (pretos e pardos) e 91,3% do sexo masculino. 
Em resposta a esse desafio, o Governo Federal lançou o Plano Juventude Viva, fruto de uma intensa articulação interministerial para enfrentar a violência contra a juventude brasileira, especialmente os jovens negros, principais vítimas de homicídio no Brasil, com ações voltadas para o fortalecimento da trajetória dos jovens e transformação dos territórios, o Plano busca promover os valores da igualdade e da não discriminação, o enfrentamento ao racismo e ao preconceito geracional, que contribuem com os altos índices de mortalidade da juventude negra brasileira. Trata-se de um esforço inédito do conjunto das instituições do Estado para reconhecer e enfrentar a violência, somando esforços com a sociedade civil para a sua superação. O programa já foi implantado no estado de Alagoas, e será ampliado paulatinamente para outros estados.
Neste momento em que a juventude tem mostrado mais uma vez grande protagonismo e presença na vida social, como por exemplo, nas mobilizações pelo passe livre, a juventude mostra-se cada vez mais um foco central da vida brasileira, desafiando os poderes públicos por transformações efetivas e exigindo uma cidadania efetiva, com perspectivas de participação ativa na construção do futuro.
Parabéns à juventude brasileira! Bom encontro Mundial da Juventude!
Visite o blog da pastoral fé e política http://pastoralfp.blogspot.com/ especialmente a seção Cidadania Ativa!!
*Professor da PUC-SP, colaborador da Pastoral Fé e Política e da Escola de Governo de São Paulo.


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