quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Trabalho e emprego no Brasil

Pedro Aguerre*


Este é um espaço que busca construir cidadania, isto é, tenta analisar a situação em que nos encontramos, como povo, como nação, em termos econômicos e sociais, buscando indicar tendências de futuro, perspectivas colocadas para as pessoas e grupos sociais. Contudo, tentamos ser realistas, baseando nossos comentários em dados e informações de pesquisas oficiais, bem como análises produzidas na Universidade e em centros de pesquisa.

Nossa crença é que a busca ativa de caminhos para a superação dos problemas sociais é uma das expressões fundamentais da palavra esperança, como dizia Paulo Freire: a participação na transformação social do país é o oposto da espera passiva. Como uma sociedade em movimento, todos temos um papel e uma contribuição a dar. Hoje vamos falar um pouco do trabalho e do emprego no Brasil.
Durante muito tempo o trabalho no Brasil tornou-se um bem desvalorizado. Esse período ficou conhecido como o modelo neoliberal, gerido sob a lógica do chamado Estado Mínimo e do capitalismo financeiro, que privilegiava a especulação e o rendimento do capital. Um exemplo concreto desse período está em que preferíamos importar bens de consumo, ao invés de produzi-los internamente.

Para se ter uma idéia desta desvalorização do trabalho, basta dizer que nos anos 80 a renda do trabalho, ou seja, o valor dos salários, respondia por metade da renda nacional, valor um pouco menor do que nos países desenvolvidos. Em 2003, contudo, este valor tinha se reduzido para pouco mais de um terço da renda, ou seja, houve uma regressão de 14 pontos percentuais.
De lá para cá observou-se felizmente um revigoramento da sociedade do trabalho. Na década de 2000, assim, foram 21 milhões de novos postos de trabalho abertos, quase o dobro dos anos 90.
É importante destacar, contudo, que a grande maioria dos novos postos de trabalho, tem remuneração de até 1,5 salário mínimo mensal, enquanto que a parcela que obtêm salários mais elevados é proporcionalmente muito pequena. O resultado global foi a ampliação da base da pirâmide social, a ampliação do contingente da classe trabalhadora, reduzindo a informalidade e ampliando os registros de carteira assinada. Esta nova realidade impacta os mais diversos setores da vida. Por um lado, permitiu uma boa redução do mar de pobreza existente e alguma redução da desigualdade. Trata-se, de fato, de uma grande expansão do trabalho e da renda.
Esta expansão tem sido analisada como a constituição de uma nova classe média que alguns chamam de uma classe média emergente. De fato há uma ampliação do consumo e um aumento das aspirações de ascensão social, favorecidos por uma política que tem nos programas sociais e na valorização do salário mínimo, importantes estímulos para a ampliação do consumo interno e o desenvolvimento. Mas, a emergência de uma nova classe média é um fenômeno restrito a uma parcela pequena da sociedade que, nesse processo, aproveita oportunidades e torna-se mais e mais empreendedora, acentuando essa característica brasileira tão presente nos mais distintos períodos da história, que gera mobilidade social.

O que ocorre no plano econômico é que esta ampliação da renda tem lotado as lojas e supermercados, obrigando as empresas a ampliar fábricas e construir novas unidades, que gerou filas nos estabelecimentos e ampliação das vendas pela Internet. Mas a expansão do consumo, em geral, é seletiva, ou seja, cada segmento social amplia moderadamente seu perfil de gastos, pois, como dizem, o cobertor sempre é curto para cobrir todas as necessidades e as pessoas costumam ser muito cuidadosas para não dar, como diz o outro ditado "um passo maior do que as pernas".

Esta nova realidade, tão diferente de um passado ainda infelizmente presente em nossa memória, ainda não significa que todos os brasileiros e brasileiras alcançaram padrões de dignidade humana. E aqui vai o ponto central da análise de hoje, que é que esta nova realidade exige o fortalecimento dos serviços públicos, como o SUS, a educação e a previdência social, como condição essencial para que as novas gerações possam melhorar qualitativamente a condição de vida de seus pais, na contínua luta pelas políticas públicas universais. Só assim, penso, daremos continuidade à construção de uma nação não só economicamente rica, mas socialmente justa e sustentável.
Outro aspecto fundamental é a importância da vida associativa, desde a participação em sindicatos, associações estudantis e de bairros, até nas comunidades de base, e nos partidos políticos, entre outros. Se a vida tem um importante componente na satisfação dos desejos de consumo, a melhoria da qualidade de vida é algo mais amplo, que demanda boa qualidade dos serviços públicos, as melhorias na infraestrutura dos bairros, no transporte público, e nas creches e escolas, que são tão fundamentais para podermos ir trabalhar diariamente sabendo que nossos filhos e filhas estão sendo bem acolhidos.




*Professor da PUC-SP, colaborador da Pastoral Fé e Política e da Escola de Governo de São Paulo


Programa construindo cidadania, um espaço utilizado pela Pastoral Fé e Política na Rádio 9 de julho. Ouça o programa no site http://www.pastoralfp.com/

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