Pedro Aguerre*
Hoje (programa apresentado em 15/02/2012) nosso comentário segue com o tema da juventude, com foco na educação. Apresentaremos algumas informações sobre a dinâmica populacional e depois discorreremos sobre alguns aspectos do grande desafio da educação. No comentário anterior comentamos o relatório De olho nas Metas da educação, ressaltando, principalmente, o grande desafio da educação infantil, com enorme falta de vagas e uma outra grande lacuna, desta vez, da abrangência do ensino médio.
Aprofundemos um pouco a questão da educação para a juventude. Pesquisas recentes do IBGE sobre essa faixa etária indicam importantes mudanças demográficas. O número de jovens com idade entre 15 a 24 anos nas seis principais regiões metropolitanas apresentou uma redução de 760 mil pessoas, de 2002 a 2011, passando de oito para 7,4 milhões de pessoas, sendo a redução mais expressiva na população acima de 18 anos.
Mas essa mudança demográfica, tendo sido acompanhada de outras mudanças socioeconômicas, como a ampliação da renda e mais acesso à educação e à qualificação profissional, contribuiu para uma outra importante transformação, a saber, reduziu-se significativamente a taxa de participação da juventude no mercado de trabalho, isto é caiu a proporção de jovens que são obrigados a ingressar precocemente no mercado de trabalho, inclusive interrompendo os estudos, para contribuir na renda familiar. Com isto, o Brasil, que apresentava um volume de jovens no mercado de trabalho muito maior que países como Chile e México, passa a ter uma situação mais equilibrada, criando as condições para um salto educacional e de aprimoramento na inserção da juventude no ensino, no trabalho, no lazer e na vida da sociedade, em suma, para uma efetiva e diferenciada participação cidadã, com mais direitos e possibilidades de evolução!!
Assim mesmo, os jovens que trabalham e estudam, majoritariamente pobres, são verdadeiros heróis pois, como diz Marcio Pochmann: “submetem-se a uma jornada de oito horas de trabalho, quatro de estudo e outras quatro de deslocamento. Isso é mais do que os operários do século XIX”. Creio que todos vemos claramente esse esforço dos jovens, nos dias úteis, ao final da noite, nos transportes coletivos, ônibus, trens e metrô, quando milhares e milhares de moços e moças voltam para suas casas, com livros de estudo e roupa de trabalho, cansados, para uma rápida refeição e poucas horas de descanso antes do reinício da jornada.
Hoje o desemprego reduziu-se em todas as faixas etárias, chegando a níveis recordes de ocupação. Se, de um lado, a população economicamente ativa, que se compõe da soma de pessoas ocupadas e desempregados, com 18 a 24 anos, se reduzira, em meio milhão de pessoas, estacionando em quatro milhões, o desemprego, por conta da ampliação das oportunidades, também baixou: O desemprego entre os jovens de 15 a 17, que era de 1 a cada 3 pessoas em 2002, hoje é uma a cada cinco. Na faixa etária de 18 a 24 anos, passou de 23% para 11%. Além disso, a redução populacional, levou a uma diminuição do número de jovens economicamente ativos, hoje estacionado em 4 milhões nas seis regiões pesquisadas pelo IBGE, meio milhão a menos que dez anos antes.
O desafio agora é ampliar a oferta de vagas (e a qualidade), no ensino médio e no ensino superior. Se, como afirmou igualmente Márcio Pochmann, “o mundo de hoje exige que se aprenda a vida toda”, torna-se fundamental acolher os 1,7 milhão de jovens brasileiros de 15 a 17 anos que ainda não estão no ensino médio. Mas, sobretudo, ainda é baixíssimo o índice de jovens que chegam às universidades: no Brasil, apenas 14% das pessoas com 18 a 24 anos estão no ensino superior, e há ainda um problema grave de interrupção dos estudos e de evasão.
E quais seriam os segmentos sociais que deveriam finalmente ter acesso aos bancos escolares e às oportunidades? Precisamente os mais pobres, os afrodescendentes, aqueles que moram nas periferias mais distantes!! Lembrando da celebre frase de Rui Barbosa de tratar desigualmente os desiguais na medida de sua desigualdade, nos perguntamos: Será que os poderes públicos estão tomando todas as medidas a seu alcance para corrigir estas desigualdades? Nós constatamos que entre os jovens brancos com mais de 16 anos, 5,6% frequentavam o ensino superior em 2007, enquanto entre os negros esse percentual era 2,8%. Essa desigualdade entre negros e brancos também se expressa em outros dados. O último censo do IBGE aponta que, entre os 14 milhões de brasileiros com mais de 15 anos que são analfabetos, 30% são brancos e 70% são pretos ou pardos.
*Professor da PUC-SP, colaborador da Pastoral Fé e Política e da Escola de Governo de São Paulo.
Programa construindo cidadania, um espaço utilizado pela Pastoral Fé e Política na Rádio 9 de julho. Ouça o programa no site http://www.pastoralfp.com/
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