sexta-feira, 27 de setembro de 2013

BEM AVENTURANÇAS

Bem aventurados os pobres,
Não por sê-lo ou por acomodar-se à pobreza,
Mas porque nela e através dela
Colocam sua confiança no grande tesouro
Que se esconde para além das honras e riquezas materiais,
Coisas que aprisionam o coração e a alma,
E que são corroídas pela traça e facilmente roubadas.

Bem aventurados os que choram,
Não porque o pranto seja sinônimo de felicidade,
Mas porque cada lágrima, dolorida e salgada,
Traz consigo justamente o sal da sabedoria,
Acumulado pela provação e pela experiência,
O qual faz relativizar o que é secundário
E ater-se àquilo que é absoluto e eterno.

Bem aventurados os mansos,
Não porque a tudo se submetem sem resistência,
Mas porque têm consciência que o tempo e o silêncio
São os melhores conselheiros na aflição,
E sabem também que qualquer ação, no momento certo,
Vem acompanhada pela mão de Deus.

Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça,
Não pela fome e sede em si mesmas,
Mas porque interpelam a ordem vigente e seus detentores,
Abrindo o horizonte da história ao futuro
E à promessa da Terra Prometida ou do Reino de Deus.

Bem aventurados os misericordiosos,
Não porque fecham os olhos à injustiça e ao pecado,
Mas porque os abrem em uma nova direção,
Uma aurora iluminada pelo dom do perdão,
Em que todos terão vida em plenitude.

Bem aventurados os puros de coração,
Não porque são ingênuos diante do mal que os cerca,
Mas porque na transparência do olhar e das palavras
São capazes de “ver” o que Deus tem reservado
Para aqueles que o procuram com sinceridade.

Bem aventurados os que buscam a paz,
Não porque ignoram as tensões, conflitos e tiranias,
Mas porque, embora cientes de todos essas contradições,
Também o são de que o caminho da guerra
Só faz crescer a espiral daninha da violência.

Bem aventurados os que são perseguidos por causa da justiça,
Não porque a perseguição seja um troféu e uma vitória,
Mas porque, não raro, representa o resultado
De quem é capaz de acender uma luz na noite escura,
Apesar de saber que o mundo prefere as trevas.


Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS – Roma, 11 de setembro de 2013

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