DAS DENÚNCIAS ÀS APURAÇÕES E AO APRIMORAMENTO DAS INSTITUIÇÕES NA DEMOCRACIA
Estas
últimas semanas têm trazido à tona com toda a força a temática da corrupção, do
favorecimento ilícito, do tráfico de influências. De um lado, após a instalação
da Comissão de Ética para apurar o comportamento do Senador Demóstenes, a
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) está sendo efetivamente
instalada para apurar as ramificações do Esquema Cachoeira-Demóstenes, e com
apoio de todos os partidos!! De outro lado, após a posse do novo Presidente do
Supremo Tribunal Federal, Ministro Ayres Britto, volta à tona o clamor popular
relativo à demora na votação do chamado mensalão.
Em comum
nesses dois casos, está a crescente indignação popular e social com malfeitos,
corrupção, tráfico de influências, à medida que vai se consolidando a idéia de
que estas situações não são toleráveis e que atrapalham o desenvolvimento e as
transformações de que o país necessita para vencer a pobreza e a desigualdade.
Também se identifica uma grande mobilização da mídia, em relação ao assunto por
parte de jornais e revistas semanais, passando pelas TVs e rádios e chegando à
Internet, com seus blogs e portais, e com uma grande difusão também nas novas
formas de comunicação representadas pelas redes sociais.
Junto com
os inúmeros e suspeitos vazamentos de informações ainda não tornadas públicas
dos inquéritos policiais, que por vezes parecem manobras para tirar o foco das
gravíssimas denúncias que justificaram a criação da CPMI, também proliferam
discursos que dizem que tudo vai acabar, segundo o ditado popular, em pizza...
Convém
lembrar, como o fez Bob Fernandes na coluna em Terra Magazine, que as CPIs tem
tido bastante sucesso nas apurações, a começar pela CPI do PC Farias e as seguintes,
sempre com condenações, aberturas de inquérito, cassações de mandatos ou a
renúncia dos envolvidos. É o caso da última CPI, a do mensalão, que hoje corre
no Supremo e está na fase final dos trabalhos, tendo a previsão de ser julgada
ainda neste ano.
Felizmente,
devemos dizer, hoje tem a Lei da Ficha Limpa, que impede a renúncia impune dos
políticos envolvidos. Quem renunciar no curso das investigações perde o direito
a se re-candidatar e passa a ser julgado pela justiça comum, perdendo o foro
privilegiado.
Da mesma
forma, ainda segundo Fernandes, a partir da lei 9.840, do ano 2000, liderada
pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, já foram cassados no Brasil
mais de 670 políticos municipais; 460, pelo menos, eram prefeitos e
vice-prefeitos, e 220 eram vereadores. Da mesma forma, centenas de deputados
estaduais foram cassados.
Por tudo
isso não se deve estimular alarmismos a respeito das apurações e das
investigações. O caso Cachoeira se originou de investigações sobre jogo ilegal
pela Polícia Federal e acabou levantando incríveis e inaceitáveis vinculações
entre crime organizado e a política, envolvendo contratos públicos, nomeações
para cargos governamentais, criminosos loteando cargos de confiança em vários
estados, enfim, situações que tem que ser apuradas, até para recuperar um pouco
o prestígio abalado das instituições públicas, que acaba afetando a
credibilidade da política.
Diante de
tudo isso, é fundamental resgatar a presença da sociedade na Política,
reivindicando, sugerindo e, principalmente, não deixando de se informar e
acompanhar não só estes fatos fundamentais do dia-a-dia mas também as medidas e
providências que vem sendo tomadas para que não voltem a se repetir,
fortalecendo as instituições e melhorando os mecanismos de apuração e controle.
Vão nessa
direção medidas como o
projeto de Lei Anticorrupção PL
6826/10, proposto pelo Executivo. Seu substitutivo, relatado pelo deputado
Carlos Zarattini (PT-SP), após inúmeras emendas e discussões parlamentares, foi
adiado para votação no dia 9 de maio. Colocando a ênfase tanto no servidor
público como nas empresas e seus representantes,
o Projeto cria condições para punir severamente situações como as que a CPMI
irá investigar. A ampla discussão realizada para preparação desse substitutivo,
acolhendo inclusive sugestões de entidades empresariais, ganhará ainda mais
força com a grande investigação parlamentar que ora se inicia.
Na
mesma direção, a comissão
de juristas do Senado que discute mudanças no Código Penal aprovou nesta
segunda-feira, 23, uma proposta que cria o crime de enriquecimento ilícito.
Pelo texto, servidores públicos e agentes políticos que não conseguirem
comprovar a origem de determinado bem ou valor poderão responder a processo na
Justiça. Incrivelmente,
o Brasil é um dos poucos países em que os sinais exteriores de riqueza não são
passíveis de imputação penal. Para que se perceba a importância dessa mudança
proposta no Código Penal, recentemente a Itália fechou o cerco sobre
sonegadores de impostos, interpelando, em plena rua, os proprietários de
automóveis de luxo. E ao fazer isso constatou que muitos dos proprietários de
bens milionários constavam nos documentos oficiais como humildes pequenos
funcionários...
Para
terminar, me permito relembrar que no dia 16 de maio, entra em vigor a Lei nº 12.527/2011
- Lei de Acesso a Informações Públicas) A partir dessa data, todos os órgãos públicos
– em todas as esferas e níveis – terão regras claras a
cumprir para assegurar o direito de acesso a informações públicas previsto na
Constituição Federal (art.
5º, XXXIII), obrigando os entes públicos a informar ao público e
responderem seus questionamentos relativos aos mais diversos temas atinentes à
moralidade pública e à transparência. Com isso, mais um novo passo é dado. E,
mais uma vez, de 18 a
20 de maio, acontece em Brasilia
a Primeira Conferência Nacional da
Transparência e do Controle Social,
um momento ímpar de expressão da sociedade sobre todos estes temas tão
importantes para o nosso futuro como nação!!
Visite o
blog da pastoral fé e política http://pastoralfp.blogspot.com/
especialmente a seção Cidadania Ativa
Pedro Aguerre
Professor da PUC-SP, colaborador da Pastoral Fé e Política e da Escola de Governo de São Paulo
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