quinta-feira, 22 de julho de 2010

Sinais de Salvação

Nós, católicos, protestantes, evangélicos, pentecostais, nos entendemos como cristãos, e disso nos orgulhamos. De tão bom que nos parece, queremos que todos se agreguem a nós. Para o bem deles, para a felicidade deles, para a salvação deles. E então intimamos:

- Já aceitou Jesus como seu salvador? Aceite-o – insistimos, porque essa é nossa proposta de qualidade de vida para todos.
De certo modo temos razão, porque dizer Jesus ou dizer salvador é dizer a mesma coisa, já que Jesus significa salvador, tanto pela tradução da palavra como pelo comportamento da pessoa de Jesus entre nós, aqui, na nossa Terra, em meio a todas as nossas contradições.

Por outro lado, dizer que Jesus é meu salvador pode ser muito pouco. Pode ser muito cômodo. Pode ser muito alienante. Depende da maneira como entendo salvador, e da maneira como a outra pessoa entende salvador. Porque pode parecer que a pessoa aceita Jesus como seu Salvador a partir do momento em que adere à Igreja de que faço parte, contribuindo com sua presença, seu serviço, seu dinheiro. E estará aceitando Jesus enquanto assim permanecer. Se ela não estiver em nossas fileiras, parece-nos que está longe, que não tem a salvação.

Quem disse que é assim? Será que isso é verdade? Será que está de acordo com os retratos falados fidedignos que temos de Jesus, ou seja, com os quatro evangelhos e o restante do Testamento por nós aceito como Bíblia?

Podemos atropelar tudo e dizer que essas perguntas não têm sentido. Que estaríamos suspeitando do que não se pode suspeitar. Ora, a salvação se dá através da Igreja! Da minha Igreja! Pois a minha Igreja é que é a verdadeira!

Já aqui, uma considerável parte dos cristãos estará equivocada. Pois não é raro um cristão considerar equivocada aquela parte dos cristãos que não pertence à Igreja que ele pertence. Eis o problema: os cristãos montam um grande palco de discórdia.

Que testemunho, hein! Para saber quem é o primeiro. Para saber quem está certo. Somos todos filhos de Zebedeu, ambiciosos pelos destaques do nosso gosto, querendo ocupar os melhores lugares (Mt 20,20-28; Mc 10, 35-45) e dominar sobre os outros, calá-los, em vez de servir aos outros, a todos os outros, às nações todas (Mc 9,38-41). Somos todos a Samaritana tentando conseguir o aval de Jesus para o nosso modo de entender a salvação (Jo 4,19-24), querendo amarrar o Espírito no lugar do nosso culto.

Aceitar Jesus como nosso Salvador é estar disposto a beber o cálice que ele bebeu, a batizar-se no batismo com que ele foi batizado, pelas mesmas razões que ele. Se tivéssemos ocasião de insultar Jesus pedindo-lhe opinião sobre nossas ideias a respeito da salvação e a respeito dele como salvador, seríamos mais um doutor da Lei, desconcertado, engolindo alguma parábola de bom samaritano (Lc 10,25-37).
É na misericórdia com os caídos, no trato dos machucados que se iluminam os sinais de salvação! É preciso cuidar, para que o culto não mereça chicotadas (Mc 11,15-18)!



Texto enviado por J. Thomaz Filho -Professor de Ética, atua com formação bíblica e cristã.
Poeta e autor de cantos litúrgicos, entre eles Imaculada, Maria de Deus.
Membro Colaborador da Pastoral Fé e Política.

4 comentários:

  1. Assim como Jesus nos pede para orar e vigiar sempre, penso que devemos estar sempre muito atentos a essa nossa terrível pretensão em pensar que estamos "salvos" por tão pouco.

    Como fica a nossa salvação quando vemos todos os dias nas ruas das cidades pessoas iguais a nós, feitas da mesma matéria e criadas pelo mesmo espírito dormindo no chão das calçadas, no frio e na chuva e eu não faço nada para mudar isso?

    Como fica essa salvação quando pessoas morrem nas filas dos hospitais públicos por falta de atendimento, e eu não faço nada para mudar essa situação?

    Mesmo se eu frequentasse todos os dias às missas da minha igreja e participasse de todos os movimentos e grupos dela, não poderia jamais pensar em salvação, enquanto essas pessoas continuarem subvivendo desta forma e eu continuar com os braços cruzados, a boca calada, achando que egoisticamente o "meu" Deus estará olhando unicamente para mim e garantindo a "minha" salvação.

    Meu querido Sr.Thomaz, obrigada por sacudir mais uma vez a consciencia e os sentimentos dessa sua fã!

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  2. Caros amigos,
    Agradecemos ao amigo Thomaz pela contribuição do primeiro de muitos textos que postaremos em nosso blog. E como não poderia deixar de ser, um belo texto, embasado na bíblia, questionador, iluminador e com grande tom de AMOR. Teremos a felicidade de aprofundar mais a questão do Ecumenismo e desta forma saber respeitar mais a todos os irmãos Cristão. Quem sabe assim sermos dignos de poder beber do cálice que Ele bebeu e viver o batismo que Ele foi batizado.
    Obrigado Amigo Thomaz!!!

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  3. Construímos (ou destruímos) ao longo da história um deus à nossa imagem e semelhança. Pelo comportamento de muitos daqueles/as que se dizem cristãos a impressão que fica é de que Cristo seja uma espécie de “amuleto”, quem o tem está protegido, está imune. Quanta pobreza! O pensar assim nos remete a uma triste verdade, ou seja, a constatação da igreja transformada em feirante que negocia certo “produto” muito procurado e em evidencia no mercado. Isso deixa-me muito frustrado e deprimido. Peço ajuda e sou remetido a um cantigo muito antigo, que diz: “Procuro abrigo nos corações/ De porta em porta desejo entrar/ Se alguém me acolhe com gratidão/ Faremos juntos a refeição”.

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  4. Quando iniciamos um trabalho não sabemos como será seu desdobramento.

    A partir do momento em que percebemos a riqueza da Campanha da Fraternidade e a importância de aprofundar essa reflexão, iniciamos essa jornada. Iluminados pelo Espírito Santo, os temas, os encontros e os palestrantes foram se apresentando/concretizando.

    Quanta beleza!
    Quanta alegria!
    Que mesa farta o Bom Deus tem nos oferecido!

    O encontro de Junho, nos deixou o maravilhoso fruto de um colaborador para nossa pastoral que com sua intimidade ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo nos coloca na nossa condição de discípulos que são chamados a conhecer mais o melhor o seu Mestre, reconhecer Sua Grandeza, Dignidade, Ética, Justiça, Misericórdia e Comunhão.

    Ao dar um passo na direção de um agir Ecumênico, somos presenteados por esse texto que aponta a necessidade de um agir humilde e misericordioso.

    Agradeço a Deus por essa experiência, agradeço ao amigo J. Thomaz Filho a reflexão que provoca responsabilidade e compromisso.

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