terça-feira, 27 de julho de 2010

ECONOMIA E VIDA

O ESPIRITO DO CAPITALISMO E A CONVERSÃO

No passado, não tão distante, quando as pessoas se sentiam "impuras" ou, na linguagem mais contemporânea, deprimidas, iam às igrejas ou outros lugares sagrados para rezar ou participar de algum rito. A ida a um lugar sagrado e a participação em ritos sagrados lhes fazia sentir mais puras, mais fortes e dignas para enfrentar a vida.

Hoje em dia as pessoas preferem ir a um Shopping Center fazer compras ou ver vitrines. E o mais interessante é que saem de lá com mais vigor e ânimo para viver. É como se o desejo de viver tivesse sido fortalecido. Não é à toa que a arquitetura dos shoppings tem muitos elementos que nos lembram templos e catedrais. Essas experiências econômico-espiritual é tão marcante nos dias de hoje que, mesmo nas igrejas a questão do consumo tem uma presença muito forte.

Isso não se dá somente na já bastante conhecida e criticada teologia da prosperidade - presente no mundo protestante, evangélico e católico - que ensina que a benção de Deus se manifesta através de ou garante a prosperidade econômica. Mas também em outras manifestações como o orgulho por causa de um padre ou pastor da sua igreja vender muitos CDs ou fazer muitos shows. Padres e pastores de sucesso (espiritual-econômico?) que costumam usar roupas e carros de marcas famosas e caras estão se tornando modelos para novos candidatos ao sacerdócio ou pastorado e também para jovens cristãos.

O problema não está em comprar algo bom e bonito em um centro de compras (shopping center), mas em sentir-se mais digno e "puro" por causa disso. A questão espiritual não está no ato de comprar ou na mercadoria que compra, mas no sentido mais profundo que encontra e vive nessa experiência. A obtenção de mais e mais dinheiro se tornou o supremo bem que norteia a vida no capitalismo. Ganhar dinheiro passou a ser a finalidade última da vida. Essa força espiritual - que Weber chamou corretamente de "espírito do capitalismo - que move hoje as pessoas e a sociedade para essa obsessão pelo consumo e por ganhar dinheiro sem fim é o que o Novo Testamento chama de poderes de destruição ou que Paulo chama de principados e potestades do mal.

As pessoas são compelidas a viver a espiritualidade do consumo ou do mercado porque estão imersas no espírito do capitalismo. Mesmo que carregam externamente símbolos espirituais cristãos ou de outras religiões mais tradicionais, muitos estão mergulhados e movidos pelo espírito do capitalismo.

Neste mundo, a conversão cristã, no nível pessoal, significa abrir os olhos para enxergar as mentiras dessa espiritualidade idolátrica (cf Jo 8,44) e perceber que os "shows da fé", por mais grandiosos que sejam, não expressam a fé de Jesus Cristo, assim como a dignidade humana não vem da riqueza ou das marcas caras e famosas. Significa também desejar encarnar o amor de Deus neste mundo, assumindo Jesus como nosso modelo de vida e de ser humano.

Jung Mo Sung
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=45257

Texto selecionado por Renê Roldan
Membro da Pastoral Fé e Política

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