quarta-feira, 21 de julho de 2010

Eleições - COMO SE FAZ ANÁLISE DE CONJUNTURA - Parte 3




SISTEMA DO CAPITAL MUNDIAL
DADOS GERAIS

É importante relacionar a conjuntura com os elementos mais permanentes, mas estruturais da realidade e levar em conta as dimensões locais, regionais, nacionais e internacionais da realidade. O sistema do capital mundial se constitui no pano de fundo do processo econômico. O sistema do capital mundial não determina todos os acontecimentos de nossa realidade, mas seguramente ele é um elemento condicionante do conjunto dos acontecimentos que definem o nosso processo histórico. Neste sentido, é fundamental ter uma idéia global de suas características e das formas concretas através das quais a realidade está relacionada a este sistema.

DESCRIÇÃO DO SISTEMA DO CAPITAL MUNDIAL
As empresas transnacionais são a ponta avançada do capitalismo contemporâneo. A lógica do capital transnacional não é a maximização do uso da ciência da produção para atender as necessidades do conjunto da sociedade, mas a maximização dos lucros. O desenvolvimento do sistema transnacional de produção aprofunda ainda mais e em escala mundial as contradições do modo de produção capitalista.:


• Concentração dos bens de produção sob o controle de uma minoria;
• Concentração da riqueza nas mãos de pequenas parcelas da população;
• Acirramento da competição entre as formas oligopólicas e não-oligopólicas e entre os grandes oligopólios entre si no interior e através de sua existência nas diferentes nações do mundo.

Uma noção fundamental é que o capital mundial não é igual à soma das corporações, das empresas transnacionais existentes no mundo ou no interior dos países, é um sistema produtivo articulado em escala mundial sob a liderança das grandes corporações e bancos transnacionais;

O capital mundial (o sistema produtivo mundial) submete a seu processo e integra a milhares de unidades produtivas (empresas) de tamanho médio e pequeno, independentemente de sua localização geográfica, nacionalidade ou propriedade;


Nas montadoras de auto por exemplo, o produto final, o carro, é propriedade das transnacionais, mas as peças de tais carros são produzidas (cadeia produtiva) por milhares de pequenas e médias empresas de autopeças;


As empresas transnacionais estão concentradas nos países capitalistas desenvolvidos. Mais de 2/3 dos investimentos transnacionais estão concentrados nestes países. Este sistema se realiza no interior das nações, orienta, reorienta, determina o sentido, o estilo, os limites do desenvolvimento das nações.

LIMITES E CONTRADIÇÕES DO SISTEMA DO CAPITAL MUNDIAL
O processo de acumulação assenta-se sobre a exploração do trabalho pelo capital: contradição entre proprietários dos meios de produção em escala mundial e força de trabalho viva organizados e definidos a nível nacional. Daí o confronto decorrente de expropriação dos capitais mais débeis pelos mais fortes, agora estabelecendo-se em nível mundial. Outro aspecto importante é a contradição entre as necessidades e vocação mundial das transnacionais e os limites e necessidades nacionais das sociedades onde operam.


O capital não tem compromisso com o nacional, com o particular, com as realidades e necessidades definidas em nível local ou nacional. Sua vocação é universal, quer o mundo como seu limite. As nações, os países devem organizar as respostas às suas necessidades locais, nacionais e aí reside inclusive a base da legitimidade de seus sistemas econômicos e políticos. A lógica da acumulação definida em nível mundial não corresponde, portanto, a lógica de acumulação definida no interior de um pais. Para poder existir nos espaços nacionais, no entanto, o capital mundial necessita do consentimento do poder político de cada pais. Deste fato decorrem em grande medida as contradições existentes entre as instâncias de poder em nível mundial e os Estados nacionais transnacionalizados. Há uma articulação contraditória do poder político em escala mundial e nacional. Para o capital transnacional, que planeja e opera tendo em vista o longo prazo, a estabilidade dos regimes é um fator essencial. Outra contradição básica é a que se estabelece entre as funções do Estado em relação às necessidades populares e um Estado transnacionalizado, cuja ordem e lógica internas transcendem o espaço nacional. Os estados nacionais passam a desempenhar uma dupla função transnacional e nacional – da qual decorrem novos problemas relativos à acumulação e à legitimidade.


Como legitimar um Estado nacional que não tem como objetivo central atender os interesses nacionais? O processo de transnacionalização exerce pressões visíveis no sentido de mudar o papel do Estado na economia, ora ampliando sua intervenção direta, ora fazendo-a diminuir. Centraliza o poder estatal no executivo, aprofunda as crises de legitimidade afetando os mecanismos tradicionais de constituição e definição do poder do Estado.


Texto preparado por Renê Roldan, membro da Pastoral Fé e Política, a partir das publicações de Herbert de Souza, o saudoso Betinho em 1984.

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