Os efeitos negativos da barragem de Belo Monte ecoaram na Europa e fizeram com que três deputadas do Partido Verde no Parlamento Europeu viessem ao Brasil conhecer mais sobre o tema. Após passar por Brasília e Belém no início da semana, nesta quinta-feira (11 de julho) elas estiveram presentes na cidade de Altamira (PA) e ouviram relatos dos atingidos pela barragem.
As deputadas Ulrike Lunacek (Áustria), Catherine Greze e Eva Joly (França) ouviram depoimentos de lideranças indígenas, pescadores, ribeirinhos, agricultores e moradores da cidade de Altamira, além de representantes de movimentos sociais como o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento Xingu Vivo Para Sempre (MXPS) e Movimento de Mulheres do Campo e Cidade (MMCC).
A atividade possibilitou montar um quadro bastante amplo de violações de direitos, que passam por baixas indenizações, aumento da violência e da exclusão social, criminalização das lutas sociais, desrespeito aos indígenas, entre outros problemas. “Minha mãe foi expulsa da terra, jogada na cidade e hoje tem que alugar metade da casa, que é pequena, para sobreviver. Ela está com depressão, fazendo tratamento”, relatou Ormazete de Oliveira, filha de agricultores.
“Nosso objetivo é que sejam respeitados os direitos dos povos indígenas e que seja respeitado o meio ambiente. A Amazônia não é só do Brasil, é do mundo inteiro, porque as mudanças climáticas não tem fronteiras”, afirmou a francesa Eva Joly.
Claret Fernandes, do MAB, lembrou que o problema de Belo Monte está além da barragem, no modelo energético. “As empresas da Áustria, responsáveis pela turbina de Belo Monte, dizem que não tem responsabilidade sobre a obra, mas elas estão no país desde 1964 e participaram dos projetos da ditadura militar para o setor elétrico. Existe uma questão de fundo maior que é o projeto energético, analisar para quê e para quem é destinada a energia de Belo Monte.”
Paralisação e Força Nacional
Um grupo de cerca e 70 operários cruzou os braços na quarta-feira (10 de julho) no canteiro de obras de Belo Monte. Segundo denúncias de trabalhadores, os manifestantes foram sumariamente demitidos, sufocando o movimento, que não teve apoio do sindicato que representa a categoria. Outros 200 teriam sido dispensados nessa quinta-feira para evitar movimentações semelhantes.
Os trabalhadores anunciam que paralisariam neste dia 10 há mais de um mês, devido ao corte das chamadas “horas entinas” (valor referente ao tempo de deslocamento entre a cidade de Altamira e os canteiros de obras, que chega a 20% do valor do salário em alguns casos e consome até 4 horas diárias).
Também nessa semana, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, decidiu prorrogar a permanência da Força Nacional de Segurança Pública dentro dos canteiros da usina. A prorrogação será por mais 180 dias, conforme portaria publicada na terça-feira no Diário Oficial da União. De acordo com trabalhadores, a tensão é grande dentro dos canteiros para evitar novas paralisações.
A Força Nacional já está dentro dos canteiros de Belo Monte de maneira contínua desde março e foi elemento decisivo para o sufocamento de outro movimento grevista empreendido pelos trabalhadores no mês de abril, que chegou a durar 10 dias. Também em outros locais da Amazônia, nas barragens de Santo Antônio e Jirau, em Rondônia, e para viabilizar os estudos para o Complexo Hidrelétrico do Tapajós, no oeste do Pará, a Força Nacional foi autorizada manter um efetivo em meados de março deste ano.
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