ESCRITO POR WALDEMAR ROSSI
QUARTA, 30 DE ABRIL DE 2014
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Em São Paulo, a única atividade que procura marcar a data do 1º de Maio como memória de seus mártires e de compromissos com sua classe é a que está programada para a Praça da Sé. Felizmente, em muitas outras cidades importantes, trabalhadores comprometidos com sua classe também resistem aos ataques da burguesia, promovendo atividades que visem recordar nossa história e despertar o sendo crítico dos trabalhadores.
Em São Paulo, a única atividade que procura marcar a data do 1º de Maio como memória de seus mártires e de compromissos com sua classe é a que está programada para a Praça da Sé. Felizmente, em muitas outras cidades importantes, trabalhadores comprometidos com sua classe também resistem aos ataques da burguesia, promovendo atividades que visem recordar nossa história e despertar o sendo crítico dos trabalhadores.
Um olhar aguçado na história vai revelar que o conflito entre capital e trabalho é permanente. É bem verdade que esse conflito ganhou corpo e expressão próprios com o surgimento da produção industrial – eixo motor do capitalismo – como o explicita Marx e outros grandes intelectuais de sua época. Porém, independentemente dos tempos e das formas de produção, a luta entre o explorador e o explorado está presente. Faz, portanto, parte da história dos povos.
Nos últimos 250 anos, tempos da produção industrial, a exploração sobre o trabalho humano ganhou contornos que geraram tempos de verdadeira barbárie, seja no início da chamada 1ª Revolução Industrial, seja em tempos atuais. Se no século 19 (anos 1800) o empresariado impunha jornadas de até 18 horas diárias, gerando esgotamento físico, doenças, acidentes fatais e mutilados em grande escala, além de muita revolta, nos dias atuais, em vários países, a situação não é diferente.
Com o planejado e preservado excesso de “mão de obra” por toda parte, grandes e pequenas empresas exigem dias de trabalho sem descanso, horas-extras frequentes e mesmo trabalho escravo, presente em obras gigantescas, em fazendas, latifúndios e comércio. São inúmeros os casos de denúncias sobre a prática da escravidão na produção de mercadorias importadas da China ou Coreia, por exemplo. No Brasil, até famosas redes de comércio já foram denunciadas por se beneficiarem de produtos oriundos do trabalho escravo.
Sempre foi assim?
Em escala mundial, diante dos desmandos dos exploradores, pode-se afirmar que aconteceram muitas lutas com vitórias e derrotas para os trabalhadores. O fato de maior impacto nesses momentos de enfrentamento foi o 1º de maio de 1886, nos Estados Unidos, com destaque para as greves de Chicago, a morte de trabalhadores pela polícia local e o enforcamento em praça pública de quatro líderes do movimento. Os trabalhadores foram considerados culpados pela violência desencadeada pela polícia, num julgamento de cartas marcadas que foi anulado pelo próprio Estado alguns anos depois. Novo júri e a absolvição plena dos trabalhadores. Daí para frente, as lutas cresceram e a jornada de oito horas foi sendo progressivamente conquistada de país em país. No Brasil, o início das luta em defesa das oito horas diárias se deu praticamente no início do século XX e foi conquistada no governo de Getúlio Vargas.
Por conta dos acontecimentos de Chicago, que gerou nossos mártires, a Classe Operária mundial e os trabalhadores em geral celebram o 1º de Maio como o Dia dos Trabalhadores, em memória de seus mártires e em busca da reafirmação de sua disposição de agir coletivamente em defesa dos direitos de todos os trabalhadores.
Mas o capital “não dorme de botina”, planeja sempre novos ataques aos direitos conquistados pelos que produzem suas riquezas. Entre esses ataques, há que se destacar a cooptação de lideranças da classe trabalhadora, estimulando-as a ludibriar seus comandados e a servir aos interesses dos exploradores. Em troca, recebem favores em larga escala. E isso, infelizmente, acontece em todos os países. No Brasil não é diferente. Hoje, depois de gloriosos anos de lutas e conquistas, o movimento sindical foi quase todo cooptado pelo capital. Com exceção de duas ou três pequenas centrais sindicais que resistem bravamente, as demais estão todas comprometidas com a exploração capitalista, aprovando modificação da legislação em detrimento dos trabalhadores e organizando atividades inócuas para amortecer a consciência histórica da classe.
O melhor exemplo são as atividades do 1º de Maio organizado pela Força (ou farsa) Sindical (aquela constituída com muito dinheiro de empresários, apoio de Collor de Mello e liderança de um comunista arrependido), que organiza shows pagos pelas empresas aliadas e sorteios – neste ano – de 19 carros Hyundai fornecidos pelo empresariado. Faz-nos lembrar de épocas em que se organizavam, pelo 1º de Maio, torneios de futebol entre times mantidos pelas empresas, cujo objetivo claro e evidente era matar a memória histórica da classe. Mantidos na ignorância de sua própria história, os trabalhadores se tornam presas fáceis à exploração capitalista, como vem acontecendo.
Infelizmente, não é apenas a Força que age dessa forma. Outras centrais, em escala bem menor, também promovem atividades/shows para concorrer, embora com resultados numéricos bem mais modestos.
Não bastasse tanta sacanagem contra o povo trabalhador, ainda temos outros circos patrocinados pelo próprio governo, como a Copa do Mundo que só interessa à FIFA e aos seus parceiros empresários, confiscando dinheiro do povo. Na ilusão da “felicidade” com possíveis vitórias da sua seleção, o povo irá saborear cada drible de Neymar, cada gol do Fred e ficará por algum tempo mais distante das decisões políticas que são tomadas pelos governantes e representantes do grande capital, em prejuízo total da nação.
Como desgraça não vem isolada, ainda teremos, neste ano, que lidar com outro grande circo: as eleições para presidente, governadores, congressistas e deputados estaduais. E o povo terá que provar desse veneno que vende ilusões de vida menos sofrida. Os blá, blá, blás já estão inundando nossos lares desprotegidos das invasões midiáticas, tentando, cada partido e candidato, vender seu peixe podre de soluções sempre prometidas e nunca cumpridas.
Quanto à data dos trabalhadores, em São Paulo, a única atividade que procura marcar a data do 1º de Maio como memória de seus mártires e de compromissos com sua classe é a que está programada para a Praça da Sé. Felizmente, em muitas outras cidades importantes, trabalhadores comprometidos com sua classe também resistem aos ataques da burguesia, promovendo atividades que visem recordar nossa história e despertar o sendo crítico dos trabalhadores. Pois, “a peteca não pode cair”. As demais, infelizmente, são o “ópio do povo”.
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado, coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo e assessor na REC/SP – Rede de Escolas de Cidadania de São Paulo.
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