sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Eleições - COMO SE FAZ ANÁLISE DE CONJUNTURA - Parte Final

Neste ano de eleições majoritárias faz-se necessário fornecer elementos que contribuam para a consciência cidadã. Essas publicações cuidadosamente preparadas por Renê Roldan, membro da Pastoral Fé e Política, a partir das publicações de Herbert de Souza, sobre análise de conjuntura propõem-se a contribuir para essa formação. Desejamos que você se prepare de forma consciente para as eleições.
ESTRATÉGIAS EM JOGO

As idéias que apresentamos a seguir constituem apenas um pequeno exercício de análise das estratégias em jogo e que podemos considerar como uma das formas mais interessantes de se fazer uma análise de conjuntura, porque a idéia de estratégia serve para se identificar as intenções dos grupos e classes sociais e tentar descobrir os sentidos mais globais dos acontecimentos e da ação de diferentes atores. Como se trata apenas de um exemplo vamos dispensar maiores análises e fiquemos somente com o esquema que identifique as estratégias existentes no grupo dirigente no poder, grupo dirigente fora do poder e oposição e movimentos populares.
A análise poderia ser organizada através do seguinte esquema:
1) As estratégias dos dois setores ou tendências existentes no grupo dirigente no poder seriam;
a) Abrir para governar. Linha liberal e institucionalizante. A estratégia desse grupo é a de tentar institucionalizar a ordem autoritária mesmo que para isso tenha que usar um processo de abertura política que amplie os espaços democráticos e possibilite um desenvolvimento mais livre das lutas sociais. O governo Castelo encarna esse tipo de estratégia, representando um dos grupos dirigentes no poder do Estado.
b) Fechar para governar. Linha dura e golpista. Partindo do princípio de que sua única base de sustentação no poder é a coerção policial militar este grupo dirigente teme a abertura acima de tudo e adota o golpe como estratégia permanente de sustentação no poder.
c) Princípio fundamental das duas tendências: não alternância do poder.
d) Essência da estratégia do grupo dirigente no poder face à sucessão, que é quando a questão da alternância se coloca: dominar os fatos/fatores de modo que não se altere o colégio eleitoral.

2) Setores dirigentes fora do poder;
> lideranças políticas liberais;
> empresários: querem expressão política;
> estratégia fundamental: lutar contra o grupo dirigente no poder no sentido de ampliar os espaços para sua representação no poder do Estado: abrir para participar da direção do Estado. Co-administração no poder.

a) Até a fusão do PMDB e PP estes setores estavam representados basicamente no Partido Popular.
b) Depois da fusão voltaram a se incorporar no PMDB.
c) Oposições e movimentos populares.
Três tipos de estratégia que podem co-existir:
a) Defensiva:
= está presente, dominante nos movimentos populares e partidos de oposição;
= os movimentos procuram defender-se dos ataques, das situações graves;
= pensam nos meios de defesa; evitam ficar a descoberto;
= não têm proposta de ataque nem alternativa à estratégia dominante.
b) Reativa:
= é uma estratégia que se dá mais ao nível da oposição política;
= diante da iniciativa, da ação do governo, faz outra diametralmente oposta;
= reações: dançam segundo a música do governo.
c) Alternativa:
= é uma estratégia que toma iniciativa no plano político;
= tem uma ação própria, com importância original;
= existe mais no nível da prática que da formulação;
= exemplos no campo do poder local;
= CEBS> organização, formação e participação delas;
= tais experiências retecem o tecido social;
= uma estratégia alternativa expressa uma visão e uma vontade de transformação global da sociedade; não parece ser ainda a estratégia dominante nos movimentos populares e na oposição brasileira, que fica mais a nível de resistência e da posição puramente reativa às iniciativas do governo.

A REPRESENTAÇÃO DA CONJUNTURA

Uma forma concreta de se fazer uma análise de conjuntura em reuniões organizadas com os movimentos populares é a de representar a situação através de um exercício de “teatro” realizado pelos próprios participantes. Este método já foi aplicado em várias situações com êxito porque possibilitou uma reflexão coletiva sobre a realidade. Os passos para se organizar esse tipo de análise seriam os seguintes:
1) Levantar as grandes questões do momento e listá-las num quadro-negro, com a participação de todos.
2) Identificar e selecionar as forças sociais que estão diretamente envolvidas nestas grandes questões;
3) Identificar e selecionar os atores (pessoas, lideranças) que representam estas forças sociais;
4) Escolher entre os participantes as pessoas que irão representam estas forças sociais;
5) Dispor estas pessoas num palco improvisado e organizar um debate “público e aberto” entre esses atores como se estivessem falando para o conjunto do pais, debatendo suas idéias e confrontando suas posições;
6) O debate será livre e sem nenhum tipo de direção e de intervenção do plenário. Pode ter um tempo de 20 minutos e será interrompido para que logo depois se faça uma avaliação do que “aconteceu” na representação e comparar isso com o que acontece na realidade.
As experiências realizadas com este método foram muito interessantes tanto pelo que foi produzido como análise coletiva da conjuntura, como pela tomada de consciência dos participantes sobre o seu nível de informação e conhecimento da realidade. A representação é reveladora também das atitudes básicas que temos sobre as diferentes forças sociais que atuam na luta política e o quanto estamos ou somos influenciados pela informação e ideologia dominante.

HERBERT JOSÉ DE SOUZA (Betinho)

Nenhum comentário:

Postar um comentário