sábado, 17 de outubro de 2009

A lógica perversa da educação de mercado

No próximo mês (outubro) comemoramos, no dia 15, o dia do mestre. Como professor, fico refletindo sobre o importante papel deste verdadeiro construtor da cidadania e a prioridade que damos a esse profissional que, de certa forma, anda tão desvalorizado em nosso país.

Ao perguntar a uma turma de estudantes que se preparam para ingressar na universidade sobre quem gostaria de ser professor constataremos que, infelizmente, a grande maioria dos alunos não deseja ingressar nesta profissão. Baixos salários, condições desumanas para exercer o magistério e falta de perspectivas são as principais razões que afastam os nossos jovens desta bonita e importante carreira, entretanto, apesar de concordar que precisamos urgentemente modificar as prioridades que damos a essa profissão na lista de reformas que cobramos das nossas autoridades, preocupa-me muito mais os valores que motivam e levam os nossos alunos a escolherem uma profissão: salário, carreiras, bens etc. Isso me faz lembrar um dos maiores educadores da história do nosso país: Paulo Freire. Ele dizia que precisamos romper com o modelo de aprendizado orientado ao mercado de trabalho onde o “saber” é construído única e exclusivamente para o consumismo e para o individualismo fazendo com que a nossa sociedade se torne uma terrível máquina que produz violência, morte, miséria e concentração de renda.

É evidente que o professor ganha muito mal e precisamos, urgentemente, iniciarmos um movimento nacional em prol da reforma educacional pautada na valorização do magistério. Se quisermos um país realmente grande precisamos fazer com que os professores sejam tão valorizados quanto os fiscais, os magistrados e os detentores de mandatos eletivos. Que tal, a partir das próximas eleições, votarmos apenas em candidatos que tenham esse compromisso? Entretanto, eu gostaria de aprofundar o outro aspecto que destaquei anteriormente abrindo o nosso artigo, ou seja, a prioridade única e exclusiva da lógica do mercado capitalista para a absorção do conhecimento em prol dos “melhores salários” em detrimento da questão vocacional.
Infelizmente, os nossos jovens não buscam mais as profissões em função do prazer e das aptidões, mas o fazem pautados única e exclusivamente nesta lógica capitalista e mercadológica.
Inclusive, boa parte dos nossos mestres, em função dos míseros salários que recebem, incentivam, de forma consciente ou inconsciente, os nossos alunos a caírem nesta armadilha mercadológica: “Qual a profissão que dá mais dinheiro?”.

Os nossos mestres, em especial os que trabalham com os jovens, são os grandes arquitetos do país que teremos no futuro. Os valores que eles passam aos seus alunos são fundamentais para a sedimentação dos conceitos da verdadeira sociedade que desejamos. Precisamos, de maneira urgente, não apenas valorizarmos e priorizarmos os professores no que diz respeito à carreira e à remuneração, mas, sobretudo melhorarmos e mudarmos também a sua formação e a sua constante atualização profissional tendo como foco esse papel de construtores de uma nova sociedade que coloca o conhecimento a disposição do coletivo e não como um produto a ser simplesmente “vendido” no mercado profissional. Só através da mudança destes dois aspectos, a valorização do magistério e a mudança do objetivo da educação, em especial a educação pública, é que poderemos mudar, de forma definitiva, os rumos do nosso país.

É evidente que as famílias possuem um papel decisivo neste grande projeto educacional para um novo Brasil. Acredito que, dentro deste aspecto de reforma educacional, o envolvimento da família dos estudantes no processo de construção do aprendizado é fundamental, entretanto, é exatamente a lógica do mercado que a impede. Afinal de contas, porque os pais se tornam ausentes, na maioria das vezes, das escolas dos filhos faltando, inclusive, às reuniões de pais, palestras e atividades extracurriculares? Não seria exatamente em função dos cursos de pós-graduação, MBAs, cursos de línguas e etc. para aumentarem seus salários e buscarem as promoções, crescimentos de carreiras e etc?

Ou revemos esse modelo educacional orientado por uma lógica de mercado e que desvaloriza, inclusive, o próprio educador ou assistiremos, passivos e inertes, o sepultamento da nossa sociedade. A escolha é nossa. E aí? Vamos ou não vamos mudar o Brasil pela educação?

Um grande abraço, a Paz de Cristo e vamos colocar sempre o “Bem Comum acima de tudo”.

Robson Leite
http://www.robsonleite.com.br
Email: feepolitica@terra.com.br

Extraido do Jornal "O Mensageiro" da Paróquia N. S. de Loreto, edição de setembro de 2009.

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