Após 50
anos do golpe militar de 1964, a memória grita o que dói na alma de quem luta
pela liberdade. Reconstituir a barbárie na perda de liberdade de expressão,
assassinatos, torturas, abusos sexuais, medo, silêncio, choro e esperança, faz
a juventude atual se deparar com um fato que nunca mais deve acontecer, o
regime que mudou a história do país. A sucursal da luta contra a repressão veio
de um despojamento de trabalhadores, trabalhadoras e estudantes a suas vidas
para a entrega abnegada pela liberdade de companheiras e companheiros.
É claro,
que hoje a juventude não vive nem de perto o signo da ditadura, contudo ainda
carregamos os significantes desta ditadura nas frestas do cotidiano. A relação
entre passado e presente pode ser mais evidente do que nunca revendo o incêndio na UNE em 64 e sentindo o mesmo
incêndio das favelas de Rio e São Paulo em 2012, 13 e 14. A tortura de Amarildo,
a morte de Douglas, a desgraça de Claudia, e tantos outros e outras que nem se
quer sabemos o que foi feito. A Polícia Militar ainda carrega a acústica de
tempos ditatoriais não tendo sido até hoje julgados seus crimes perversos na
ditadura, hoje ainda sustenta os “autos de resistência” e não possuem um órgão
externo que possa julgá-los. Irônico pensar que é uma instituição que se auto
investiga.
Recentemente
fui assaltado e conversando com o policial ele me disse que como a justiça não
põe esses menores na cadeia, cada vez que ele reencontra o mesmo menor que
continua a roubar aqui em Tiradentes, ele da soco nele até arrancar o seu dente
(sic). Aterrorizante ver que essa terra tem o sangue derrubado de guerreiro
como Marighela, Vanuchi, Frei Tito, Rubens Paiva, Isis, Iara, e outros milhares
que lutaram pela justiça e perceber que ainda se derruba nesta terra sangue de
homens e mulheres, meninos e meninas arrancados da liberdade por perseguição do
estado.
João
Goulart, Jango, pretendia dar ao país depois de 500 anos as reformas de base
iniciando pela comunista reforma agrária. Ordenar a maior desigualdade do país que contabiliza
98% das terras irregulares. A reforma de Jango previa distribuir títulos de
propriedades à 1 milhão de camponeses. O golpe dos militares traiu a população
que segundo pesquisa do IBOPE feita naquele período 68% da população aprovava
Goulart. Goulart foi tirado pela truculência da classe dominante e trazemos a
marca de que há 50 anos poderíamos ter tido o início da dissolução da desigualdade
de terras no país, que culminaria hoje numa pergunta: o que seria a favela hoje
se os camponeses não tivessem migrado para as cidades e se transformados em
escravos/operários da grande indústria? Quem a polícia mataria?
Cabe pensarmos que a militarização é o
resquício do medo e da dominação burguesa do país que se traveste em interesses
políticos e higienistas. O estado com sua política de incursões armadas, pode
ser comparado ao capitão do mato então
enviado para a floresta a fim de capturar escravos fugitivos (na escravidão), com
os militares que entravam em casas na caça a comunistas (na ditadura) e que agora
atua na contenção de ânimos dentro das favelas redefinida como uma “aglomeração
subnormal” para prender e matar pobres, negros na periferia. Vale lembrar que
as pessoas da periferia vivem sendo cerceados seus direitos de ir e vir, e
quando a polícia toca o recolher são alvejados à 2 metros de distância por uma
corporação amplamente militarizada.
O
crescimento de favelas não é, principalmente o resultado de leniência ou da
irresponsabilidade de governos passados, mas existem solidadas razões
econômicas por trás desse contínuo crescimento de favelas e habitações
populares que são feitas distante das regiões de trabalho e de políticas públicas
de qualidade. O secretário de segurança do Rio de janeiro José Mariano
Beltrame, declarou durante o Fórum de Segurança Pública do seu estado que as
crianças das favelas já surgem do ventre de suas mães criminosas por conta do
ambiente ao redor, uma vez que nele seria tão normal ver bandidos empunharem
armas automáticas como pessoas utilizarem celulares (sic). Quando se considera
que uma criança possa sair do ventre como bandido – uma espécie de lei do
ventre bandido - , condena a favela a ser uma
espécie de berçário de bandidos,
servindo para justificar a retórica de esterilização de homens e
mulheres ou o assassinato de jovens. O resultado está nas atuações das UPP
(Unidades de Política Pacificadora) que atuam num estádio de sítio dentro das
comunidades. Se os militares no asfalto foram proibidos desta ação que durou 21
anos no país como um todo, nas comunidades e periferias de todo o Brasil, ainda
se persiste uma violação drástica de direitos humanos tendo comemorado de 25
anos da constituição de 1988, a carta magna assinada pela elite burguesa do
país. Há uma infeliz semelhança na história brasileira da Policia existir para
ser o elo repressor entre burguesia e favelas.
A diferença
dos períodos (1964 e 2014) dada também a proporção da repressão hoje, é
evidenciada por eximirem principalmente
a população pobre e marginalizada que não possui nem objeto cultural de
expressão (RAP) reconhecido pela elite política e muito menos reconhecem seu
conhecimento sobre política e educação.
50 anos
depois do golpe a Jango e a história de brasileiros e brasileiras, o cenário
efervesce buscando reformas brutais. Se as mortes continuam a acontecer, se os
militares persistem no genocídio e a elite burguesa continua a ditar as
decisões nacionais, o paradigma desta juventude nova se impõe pela negação
desta velha política e pede um novo jeito de participação e priorização da
classe trabalhadora, estudante e de periferia que sempre foi maioria nesta
nação. Por toda parte vemos jovens, professores e militantes proclamarem o
desejo pela desmilitarização da polícia.
O sonho de
Jango é carregado hoje pela juventude que são assistidas nas ruas pedindo
reformas de base, reforma agrária, tributária (taxação dos ricos, etc),
política, e outras, evidenciando o peso do sangue derramado pela juventude de
64. Outras reformas para enfrentar os
graves problemas do tráfico de drogas, crime de colarinho branco e lavagem de
dinheiro. O então Ministro da Justiça do governo Lula, Tarso Genro, já se disse
convencido da necessidade de um “novo pacto federativo” para que a segurança
pública pudesse ser negociada em conjunto pelos governos federal, estadual e
municipal. O Estado deve estar antes de qualquer coisa, comprometido em
garantir o direito à cidadania (que prevê protestar a toda e qualquer decisão
do estado, como por exemplo; uma copa do mundo), o direito à vida, o direito de
ser considerado inocente, até que se prove o contrário pelo sistema judicial, o
direito de ir e vir livremente pela comunidade, o direito de não ser obrigado a
deixar a polícia entrar em sua casa sem um mandato judicial e o direito de não
ser submetido a tratamentos cruéis ou de tortura pelos agentes do estado, este último
deve-se ao sangue redentor de todos e todas envolvidos e envolvidas em
destronar a ditadura militar do país. A esses heróis, nossa eterna gratidão, e
que nossas vidas valham uma centelha de sua entrega para fazer acabar com a
polícia militar, miséria, morte e violência em nosso país.
PARA QUE NUNCA MAIS NOS ESQUEÇAMOS:
DITADURA E POLÍCIA MILITAR NUNCA MAIS!
Eduardo Brasileiro, estudante de Ciências Sociais na
Fundação Escola de Sociologia e Política é militante da Pastoral da Juventude
de Itaquera e da Rede Ecumênica da Juventude (REJU-SP).
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