sábado, 23 de janeiro de 2010

Desafios da Humanidade para os Próximos Anos

Recentemente, durante uma palestra para os pais e responsáveis dos alunos de uma escola no Rio de Janeiro sobre o papel destes na educação dos filhos para um mundo melhor, eu fui perguntado sobre o quanto realmente poderíamos transformar esse mundo apenas com a educação dos filhos. Essa pergunta muito me entristeceu uma vez que eu percebi uma grande dose de descrença e egoísmo contido nela. Descrença em função da sensação de impotência frente ao terrível cenário de um mundo doente dominado por graves problemas como a fome, o desemprego, a violência e a miséria da maioria da população mundial (dois terços dos habitantes do planeta vivem abaixo da linha da pobreza, segundo a ONU). Egoísmo em função da “impossibilidade” em renunciar a alguns privilégios pessoais para dar a sua parcela de contribuição para um mundo melhor. Aliás, é exatamente sobre esse sentimento de egoísmo que eu gostaria de aprofundar aqui no nosso espaço do Mensageiro ao completar esses belos 25 anos de caminhada.

Além do número estarrecedor de pobres em nosso planeta que passam fome e miséria, podemos perceber que estes graves problemas não acontecem por escassez de alimentos. A produção mundial de alimentos é suficiente para alimentar 11 bilhões de pessoas por dia, enquanto que a população mundial, segundo a ONU, é próxima dos 6,3 bilhões de seres humanos. A conseqüência disso? Morrem 24 mil pessoas por dia de fome no mundo. A fome mata mais que o acidente no trânsito, do que a AIDS, do que o Câncer e do que as guerras. Podemos seguramente afirmar que a verdadeira arma de destruição em massa no mundo é a fome. Ela mata em um mês mais do que a quantidade de pessoas que as armas nucleares já vitimaram no planeta. Tudo isso ainda é agravado pela equivocada política neo-liberal de valorização do consumo. Como já falamos aqui antes, o ter, infelizmente, vale muito mais em nossa sociedade “moderna” do que o ser.

Segundo as estimativas oficiais da ONU, com os esforços atuais para combater a fome, esse mal somente será eliminado do mundo provavelmente depois de 2030.

"Morrem 24 mil pessoas por dia de fome no mundo. A fome mata mais que o acidente no trânsito, do que a AIDS, do que o Câncer e do que as guerras. Podemos seguramente afirmar que a verdadeira arma de destruição em massa no mundo é a fome."

Entretanto, em função de “pressões internacionais das grandes potências”, esse número já começa a ser revisto para, infelizmente, pior. Em outras palavras, a fome ainda não é considerada pelas grandes potências como prioridade na execução de políticas públicas no âmbito internacional.

Todos estes dados podem, sob uma análise superficial, fortalecer a posição do pai na minha palestra. Ora, o que podemos (ou, segundo as palavras dele, poderíamos) fazer para mudar isso se esse problema não é encarado com a devida prioridade pelas autoridades políticas mundiais?

Precisamos tomar muito cuidado com esse tipo de abordagem. A pergunta, por si só, já traz uma terrível armadilha que reconforta a nossa alienação. Colocamos os tais “líderes mundiais” como únicos responsáveis pelo problema. E esse é o grande e terrível equívoco. Estes homens não são nada mais do que o reflexo dos nossos anseios, dos nossos desejos e, por que não dizer, das nossas atitudes. Todos os governantes, seja aqui no Brasil, seja no país mais pobre da África ou até mesmo nos Estados Unidos, são conduzidos ao poder para atender aos nossos anseios. As políticas públicas são reflexos da atitude de um povo. E se essa atitude precisa, antes de qualquer coisa, ser pautada e respaldada no coletivo e no bem-comum. Façamos um exame de consciência: será que a nossa sociedade realmente deseja, ou melhor, demonstra que a fome e os interesses da maioria sobrepujem os seus interesses particulares? Aqui mesmo no Brasil quando votamos, por exemplo, em nossos parlamentares escolhemos pensando no coletivo, ou nos favores e vantagens que essa pessoa irá trazer para nós?

Precisamos rever as nossas atitudes e as nossas escolhas. Se não fizermos isso com urgência acabaremos nos tornando reféns deste mundo cruel e doente. É urgente a necessidade de quebrarmos o paradigma dos falsos valores do individualismo.
Pensar e agir em função do coletivo é um dos grandes ensinamentos de Cristo para as nossas vidas. Somente assim é que fugiremos das armadilhas deste mundo e conseguiremos, finalmente, trazer o Reino dos Céus até nós.

Um grande abraço, a Paz de Cristo e vamos colocar sempre o “Bem Comum acima de tudo”.

Robson Leite
www.robsonleite.com.br
e-mail: feepolitica@terra.com.br

Publicado originalmente em "O Mensageiro" da P. N. S. Loreto (Dezembro 2009)

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