Waldemar Rossi
Depois dos áureos tempos das Comunidades de Base e das Pastorais Sociais de caráter transformador, muito pouca coisa se tem feito no sentido da formação para a ação em nossa cidade.
A formação
de homens e mulheres a que nos referimos na introdução do texto é aquela que
leva as pessoas a conhecer a realidade, refletir sobre os problemas que afetam
a vida do povo, procurando conhecer suas causas estruturais – não se satisfazendo
apenas com os aspetos conjunturais -, contribuindo para a aquisição do conhecimento
de experiências históricas, estimulando à ação individual e coletiva, visando a
superação dos problemas agindo sobre suas causas nas dimensões do
político-econômico-social-ideológico, buscando a transformação das pessoas, das
práticas e das estruturas.
Essa
formação libertadora, que contribuiu para que muitos e muitas assumissem seu
espaço político, era necessariamente desenvolvida pedagogicamente para que os
participantes descobrissem seus potenciais de intervenção, favorecessem sua
inserção nas lutas do povo como protagonistas das mudanças e não apenas como
cumpridores de tarefas. Era indispensável que os “formandos” não fossem e não se
sentissem “doutrinados”. Visava-se despertar o senso crítico das pessoas,
favorecendo seu discernimento e livre engajamento.
Felizmente,
muitas sementes não se contaminaram conseguindo resistir à manipulação e aos
avanços vorazes do poder capitalista. É preciso saber que durante o processo de
manipulação inúmeras experiências no campo da formação consciente foram desenvolvidas
por todo o país, especialmente naqueles duros tempos, não deixando “a peteca
cair”, a espera do momento propício para dar seu salto qualitativo.
Recentemente,
a insatisfação das novas gerações ante tanta sacanagem, corrupção, descaso com
as enormes carências do povo trabalhador e a mudança de postura das direções
dos movimentos sociais (construídos ao longo dos anos de chumbo), favoreceram o
surgimento de inúmeras novas experiências e aglutinação de cidadãos e cidadãs
comprometidos com as lutas pela justiça social. Neste sentido, o surgimento da
primeira Escola de Política e Cidadania foi como que a luz que faltava no fundo
do túnel. Seu efeito, embora ainda lento, vai sendo como o do dominó, em
cadeia, estimulando a formação de outras escolas, processo que tende a se
expandir por bons tempos.
O que nos
chama a atenção é que seus promotores têm tido a feliz preocupação de não dar
passos maiores que as pernas, sem porém deixar de ousar e ousar sempre,
praticando, acertando e errando, revisando, corrigindo, partilhando
conhecimentos, avançando.
Dentro deste
contexto, surgem as Escolas, simultaneamente com o despertar das novas gerações
e seus protestos almejando ocupar os espaços a que tem direito. Na Igreja
Católica a grande surpresa da eleição do papa Francisco, um latino-americano,
com larga prática pastoral junto ao povo carente – povo descartável pelo
sistema, segundo suas palavras – e que ousa também propor e promover reformas
de fundo nas arcaicas estruturas da Igreja Católica, assim como estimulando aos
cristãos a não permitir que lhes roubem a alegria de levar a Boa Nova a todos
os lugares. “Os cristãos precisam ser revolucionários”, dizia ele no Brasil.
Artigo utilizado para reflexão no 6o. Encontro das Escolas de Fé, Política, Cidadania e Justiça de São Paulo, realizado no sábado 22/02/2014, no Centro Pastoral São José do Belém - Belém - SP
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