quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Grito dos Excluídos 2008

A 14ª edição do Grito dos Excluídos, com o lema “Vida em primeiro lugar, direitos e participação popular”, mobilizou no último 7 de setembro dezenas de milhares de pessoas em todo território brasileiro. O que mais chama a atenção é o caráter nacional da iniciativa que, desde 1995, envolve movimentos e pastorais sociais, entidades e diversas organizações populares. Embora as atividades mais destacadas do Grito tenham ocorrido nas capitais dos estados e no Santuário de Aparecida, interior de São Paulo, a cada ano que passa o movimento se estende a novos municípios, dioceses, localidades, no campo e na cidade. As manifestações refletem uma pluralidade rica e variada de eventos – romarias, caminhadas, celebrações, atos públicos, entre outros – formando uma ampla rede capilar marcada pela indignação e pela crítica, mas, ao mesmo tempo, pela ação propositiva.
São gritos que ganham vida e saem às ruas e praças. Explícitos uns, silenciosos outros, brotam do chão de um país onde os contrastes seguem gritantes. Como lembra o tema deste ano, está em jogo a universalização à população brasileira dos direitos básicos, tais como terra, trabalho, moradia, saúde, salário justo, lazer, transporte público, enfim, por um lado, justiça e paz para todos e, por outro, combate a todo tipo de violência.
Três destaques desta 14ª edição do Grito. Primeiro, num painel exposto no Santuário de Aparecida, a população foi convidada a manifestar seus gritos pessoais. Predominou a indignação frente à corrupção na política e nos poderes públicos. Daí a importância de continuar com a “Campanha ficha limpa para os candidatos”, em vista das eleições municipais de 2008. Mas não basta! Além desses gritos declarados, há um grito mudo caracterizado pela apatia, o desestímulo e o descrédito popular pelo processo eleitoral que se aproxima. A própria democracia formal e representativa encontra-se enferma. Os sintomas da doença são graves e bem visíveis. É necessário avançar para formas de participação popular efetiva, a partir das bases, se queremos salvar a democracia sem qualquer tipo de adjetivação.
Em segundo lugar, o Grito vem incorporando cada vez mais a preocupação pelo aquecimento global e pela necessidade de preservar o meio ambiente, buscando um desenvolvimento e uma civilização sustentáveis, quer do ponto de vista ecológico, quer do ponto de vista social e cultural. Como exemplo disso, podemos citar as mobilizações em defesa do Rio São Francisco. E podemos citar também a desconfiança frente à euforia manifestada pelo governo quanto à descoberta das novas reservas de petróleo, o chamado pré-sal. No contexto do aquecimento global, será lícito comemorar a perspectiva da queima de mais combustível fóssil para o ar das próximas gerações, ou investir em fontes de energia alternativa, sem comprometer por outro lado a produção de alimentos? Além disso, para quem será destinada essa riqueza? O discurso de que ela poderá servir ao programa de educação, por mais que respire boa vontade, parece não resistir facilmente às pressões dos senhores do petróleo, nacionais e internacionais!
Por fim, é sempre oportuno ater-se à espinha dorsal do Grito: a vida em primeiro lugar. Este tema acompanha as manifestações deste o início. Se a exclusão social, a violência e a morte ainda fazem parte do cotidiano de tantos brasileiros e brasileiras, o grito pela vida não pode parar. Ele está na raiz de todos os gritos, simbolizando, simultaneamente, um não ao modelo econômico neoliberal concentrador e excludente e um sim à luta por uma economia solidária e participativa, onde a vida esteja acima do lucro e do mercado!

Pe. Alfredo Gonçalves

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