Por ocasião da
passagem de mais um “Dia Internacional da Mulher”, a Pastoral Fé e Política
provoca uma reflexão sobre essa temática, fazendo um recorte na história numa
época onde mais uma vez, apesar da participação efetiva, a Mulher é desumanizada
e retratada como “algo” sem alma ou vontade.
A Mulher
na II Guerra Mundial
por Paulo
Lopes
Em 2015 lembramos os 70 anos do fim da II
Guerra Mundial, um conflito que moldou muito do que somos até hoje. Iniciado
formalmente em setembro de 1939 com a invasão da Polônia pelos nazistas, mas
atualmente também visto como uma continuação da I Guerra Mundial, estendeu-se
até setembro de 1945 com a rendição do Japão aos EUA. Muito se tem escrito sobre
ela, as atrocidades cometidas, a tecnologia envolvida, os impactos sociais e os
grandes heróis e vilões que dela participaram, mas esquecemos quase sempre de
citar especificamente o papel corajoso que as mulheres desempenharam nesse
período triste de nossa história.
Na maioria dos países envolvidos
diretamente na II Guerra Mundial as mulheres desempenharam o papel de
substitutas da mão de obra masculina em fábricas e serviços públicos ou serviram
militarmente como unidade auxiliar (médica, transporte, de cozinha, manutenção,
etc.), além de serem geralmente as grandes vítimas civis do
conflito.
Quando operárias tiveram um duro papel a
cumprir nas fábricas e na construção, sempre com a constante dúvida sobre a sua
capacidade para isso e o dever de continuar cuidando da casa e dos filhos nos
ombros. Foram estas mulheres que deram o suporte necessário para que suas tropas
continuassem em luta. Nas cidades da Europa e Ásia esta tarefa ainda deveria ser
cumprida sob o risco de bombardeios inimigos. Eram elas também que cuidavam dos
feridos, ajudavam a desobstruir ruas e a remover escombros. Essas desconhecidas
mulheres tiveram seu próprio “front caseiro”, onde a quantidade
de vítimas fatais e feridos muitas vezes superava aquelas das frentes de
batalha. Prova disso é que 58% das fatalidades ocorridas durante a II Guerra
Mundial foram de civis.
Dentro das forças armadas elas cumpriram
seu papel, embora nem sempre reconhecidas. As aviadoras soviéticas eram tão
hábeis e temidas pelos nazistas que os pilotos alemães que abatessem uma delas
eram condecorados. As “snipers” russas ficaram tão famosas no
Exército Vermelho quanto seus colegas homens. Milhares de francesas, polonesas,
italianas, chinesas e russas juntaram-se a grupos de resistência em territórios
ocupados pelos nazistas, onde a captura significava a morte. Quase que
anonimamente, enfermeiras, mecânicas, cozinheiras, motoristas, aviadoras,
intendentes e técnicas prestavam todo o tipo de trabalho de suporte dentro das
unidades em combate, eventualmente pagando com suas vidas.
Foram as grandes vítimas do conflito: além
de enfrentarem todos os riscos que os homens enfrentavam também sua condição de
mulher as expunha a muitos mais. Entre 1945 e 1948 cerca de 2.000.000 de
mulheres alemãs foram estupradas somente pelos pelos soviéticos, das quais
240.000 morreram, 90% das sobreviventes contraíram doenças venéreas, 75% foram
violentadas mais de uma vez e em metade dos casos os estupros ocorriam de forma
coletiva. Na Ásia os japoneses obrigam aproximadamente 200.000 mulheres a se
prostituírem exclusivamente para seus militares, as chamadas “mulheres
de conforto militar”, além de violentarem um número incalculável de
outras, principalmente chinesas, nos territórios que ocupam. É inimaginável a
quantidade de mulheres que foram estupradas, humilhadas e assassinadas durante a
guerra e as graves consequências sociais disso.
Nos campos de concentração não era
diferente. Judias eram organizadas em prostíbulos como recompensa para os
prisioneiros com bom comportamento e civis colaboracionistas, o campo de
concentração de Ravensbrück, especialmente construído para mulheres, realizava
experimentos com as prisioneiras e seus bebes que mal podemos conceber
atualmente.
Esta tragédia mundial, entretanto, abriu
espaço para que as mulheres pudessem mostrar sua igualdade intelectual e de
capacidades para o mundo, iniciando uma segunda onda de conscientização e tomada
de direitos (a primeira acontece após a I Guerra Mundial) que culminaria com o
movimento feminista dos anos 60 que passa a combater direta e explicitamente as
estruturas sexistas sociais e de poder em nossa sociedade. Essas pioneiras, seja
como combatentes ou civis tentavam manter a sobrevivência da sociedade e de suas
famílias, desempenhando um papel heroico em meio ao caos, sujeitas a todo tipo
de violência, a estupros sistemáticos, a fome e a falta de recursos em geral.
Com seu sacrifício, abrem o caminho que suas filhas e netas trilhariam nas
décadas seguintes em busca do respeito como seres humanos e da igualdade de
direitos, uma caminhada que continua até os nossos dias.
Paulo Lopes
Agente da Pastoral Fé e Política da
Arquidiocese de São Paulo
Muito atento e sensivel a tudo o que diz
respeito à dignidade humana, o Papa Francisco se encontra com algumas dessas ex-escravas sexuais da II Guerra
Mundial.
Segue link:
“Quero uma Igreja solidária, servidora e missionária, que Anuncia e saiba ouvir.
A lutar
por DIGNIDADE por JUSTIÇA, IGUALDADE, pois “EU vim para
servir””. (Refrão do hino da CF 2015)
Minha fé é política porque ela não suporta separação
entre o corpo de Jesus e o corpo de um
irmão.
Minha
fé é política porque crê que a economia pode mudar um dia e ser toda
solidária.
Minha fé é política porque acredito na juventude, na sua
força e inquietude, no seu poder de diferença
e na força da velhice que com sua
sabedoria e experiencia ainda tem muito a colaborar, para um país justo,
igualitário sem tantas injustiças sociais..
Pastoral Fé e Política
Arquidiocese de São Paulo
A partir de Jesus Cristo em busca do bem
comum
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